Oiço a plateia a aplaudir o meu talento. Sussurram por entre as notas finais da banda sonora que as minhas expressões faciais são quase perfeitas. A forma como sinto os sentimentos é transparente e verdadeira, transmitindo uma verosimilhança impressionante. As cortinas fecham-se lentamente e eu continuo enredada na personagem, como se aquela alma fosse minha, como se não soubesse sentir de outra forma. Não te conheces verdadeiramente, oiço uma voz na minha mente a suspirar. Como podem estes sentires tão intensos que me devoram o amâgo despir-se de mim? Como posso voltar a submergir a minha alma em tranquilidade? A minha rede de confiança e intimidade era apenas um roteiro com discursos ensaiados e gestos mímicos oportunos. O que pensava ser uma realidade familiar era apenas uma máscara e sinto que o teatro deve chegar finalmente ao fim. Sem aplausos, sem ovações, sem esperança de encores. Fecham-se as cortinas e com as mãos impostas sobre o meu triste coração, entendo finalmente que não fui actriz. Todos os sentimentos que transmiti á audiência eram realmente meus, todas as falas eram do meu espírito, todas as expressões eram o reflexo do meu sofrimento. Não há mais palavras, não há mais interpretações, não há mais reconhecimento. Prostrada no chão do palco, rendo-me ás lágrimas, tão verdadeiras quanto minhas.
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