Amo-te, queria gritar. As palavras morrem-me na garganta, estranguladas pela tua frieza. Esqueceste-te das emoções numa gaveta qualquer, arquivadas entre mil e um processos. Não sou mais que silêncios abafados pela racionalidade e descontração com que me deixas escapar por entre os dedos. Estou a fugir, entendes? Estou a escapar-me por entre as angústias que me consomem a alma e devoram o peito. O coração nervoso sem saber onde abrigar-se. O amor que nutro amedrontado pelas incertezas. A vontade de continuar aqui esmagada pelo tempo [ou pela ausência dele] que nos impede de sermos um nós. O meu maior desejo era conseguir despertar em ti a paixão avassaladora que dizes nunca ter sido capaz de sensoriar. Falhei. Não tens um peito capaz de abrigar amor por mim. Não me aprofundei com intensidade suficiente para alcançar esse teu coração rodeado de gelo. Não fui mulher suficiente para acordar a necessidade de um sentir devorador e de uma intensidade que te tragasse o âmago sempre que estivesses longe de mim. Sinto-me despojada de verdade, aniquilada pelo homem severo e ríspido que sempre foste e que eu julguei albergar um menino carecido de amor. Estava enganada, meu amor. O teu coração é negro e todos as minhas diligências foram em vão. Rendo-me, aqui e agora, ainda que contra a minha vontade.
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