quinta-feira, junho 02, 2022

Um outro alguém.

 

 
 
Respiras fundo e pronuncias lentamente o teu amor por mim, mas eu não consigo evitar pensar que as palavras estão banhadas pela cor da mentira. Magoas-me e destroís-me um pouco mais a cada dia, apenas para reconstruir-me e deixar-me segura pela esperança. Quando a solidão abraça-te, eu corro para os teus braços sem hesitar. No entanto, sempre que preciso de ti, não consigo alcançar-te e foges-me pelas frestas da alma, perfurando um pouco mais as paredes do meu coração. Eu não desejaria a ninguém este tipo de amor que doí. Um amor que se sentisse por outro alguém, jamais rasgaria desta forma o ânimo. Se fosses um outro alguém, seria tão mais fácil abandonar-te. Mas como posso sequer pensar em deixar uma alma em tudo semelhante, quase como a parte que falta em mim? Se fosse menos difícil, eu seguia na direcção oposta e deixar-te-ia ouvir os meus passos enquanto afastar-me-ia para qualquer lugar onde não estivesses. Eu diria a mim mesma para correr para longe e deixar de sentir-me cega pelo sentimento que me tolda o pensamento. Diz-me, porque permaneço aqui? Podemos regressar aos primeiros instantes em que éramos apenas estranhos e o meu coração não desejava o teu? Este amor cruel, infindável, tenebroso, angustia-me o sentir. Procuro por algo que não consigo encontrar, um desejo incontrolável de ver-me todos os dias, de não conseguir ficar longe de mim por muito tempo; uma vontade descontrolada de perder-se em mim. Estou a querer mergulhar numa intensidade que existe apenas na minha imaginação, sinto. Mas pergunto-me porque quiseste ser alguém que despertou um sentir com que não sabe lidar?

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