Minha querida angústia, voltamos a encontrar-nos. Um dia acabarás por ser a minha ruína. Quantas vezes arrebatas o meu ser com a tua imensidão? Volto a sentir uma agonia que não parece nunca terminar e deixo-me arrastar pela escuridão que de mim se apodera. Luto contra o meu coração para certificar-me que não volto a sentir amor. Não quero amar novamente. Gostava de não saber o que acontece sempre que o meu peito fica despedaçado, como se me tivessem arrancado o coração e cuspido. Gostava que este orgão malfadado fosse feito de pedra. Se eu fosse resistente a todas as desilusões, eu amar-te-ia em tons de gelo e de fogo. Entregar-te-ia todo o meu amor se eu fosse imune ás decepções. Se eu tivesse um coração de pedra, poderia ignorar as cicatrizes, correr na direcção do tiro que vem contra mim, entrar de alma aberta no incêndio, cortar as correntes, dar-te tudo de mim. Um cerne assim não se parte, permanece sempre intocável e belo. Poderia continuar a saborear o veneno do escorpião, sentir a picada sem precisar de um antídoto e não estaria aqui a procurar razões para dizer adeus. Não sei dizer se o que estamos a sentir é certo ou errado, e se eu estiver a desistir do amâgo onde pertenço? Nunca vou conseguir quebrar o padrão...
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