sexta-feira, dezembro 25, 2020

Sabes porque estou a sorrir com os olhos? É por tua causa.

 Eu não queria que chegasses e eu apegasse-me a ti assim de uma forma tão completa. Eu falei-te na armadura que guardo junto ao peito, mas acho que a tua fez faísca com a minha e abriu-se a meio. Não queria estar aqui sentada segurando a chávena de café entre as mãos a relembrar as tuas palavras que se destacaram por entre a multidão. Não queria, de igual modo, ter que rever as tuas fotos a cada hora para apaziguar a saudade que me estrangula o peito. Esforço-me por relembrar a forma como as tuas palavras eram doces e faziam estremecer um coração que sempre foi gelado, mas a tua voz parece-me agora uma memória longíngua.  O meu olhar esforça-se por continuar a sorrir por tua causa e esquecer todas as distâncias e ausências de tempo que entre nós interpõem-se, mas a saudade fala sempre mais alto. Esta falta do teu toque a cada noite antes de dormir, o vazio que sinto por não saber se ainda sentes o mesmo, se ainda sou linda aos teus olhos, se ainda pensas em mim a cada instante, se ainda és capaz de mover mundos para falar comigo, se ainda querias estar comigo mesmo quando o cansaço irrompe-se-te alma dentro, destroí-me um pouco a cada dia que passa. Tentas acalmar-me o âmago dizendo que é apenas falta de tempo para entregar-me vocábulos como antes, mas uma parte de mim sente que há algo mais e tem medo, muito medo. E eu sinto uma angústia dentro de mim que nem as lágrimas que derramo ao fim da noite ao olhar para as tuas olhos, no mesmo horário em que antes sorria ao ler as tuas palavras, conseguem acalmar. E eu que sempre adorei a quadra natalícia, sinto que é a mesma que te está a roubar de mim e só quero que Janeiro chegue depressa e que voltes a ser meu. E se não voltares a ser? Eu resguardar-me-ei nas tuas fotos e palavras e regressarei ao início do mês de Dezembro, altura em que contra toda a minha vontade entraste de mansinho no meu peito e aí ficaste, mesmo que nunca tenha sido fisicamente.


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