domingo, março 03, 2024

Silêncio ensurdecedor.

 


Dois dias passaram por nós e o silêncio falou mais alto. O teu pedido de desculpas que não chegou, o teu olhar a implorar-me para ficar, o teu corpo a chamar pelo meu. Nada, apenas o silêncio ensurdecedor. A minha partida não perturba minimamente a tua essência. E eu esperei, agarrando-me vorazmente á certeza que o teu amor por mim ainda existia e iria clamar para não me deixares ir. Certamente o teu orgulho sobrepôs-se e assegurou-te que eu iria ceder como tantas outras vezes, que o amor que nutro por ti iria largar a razão que tenho sempre que me magoas e que iria quebrar o silêncio com palavras ferozes. Não ouvi o meu coração pela primeira vez na vida. A saudade magoa e corta o peito com força, sangrando de forma violenta por dentro, mas como não é vísivel ao teu olhar, calculo que não importe. Guardarei na memória todos os sorrisos, todos os momentos em que me fizeste feliz, todas as palavras de carinho que entregaste ao meu peito. No entanto, neste momento, o sentir que a minha companhia já não te aquece a alma, que o meu humor já não te faz vibrar, que não é ao meu lado que queres sentir a pureza das caminhadas, não é comigo que desejas prender os olhos em histórias de amor, a minha dor impele-me urgentemente a ir. Sem mais demora. Sem adiar mais um dia que seja como tenho feito nos últimos seis meses. Eu ofereci-te uma escolha e tu fugiste na direção oposta. Entreguei-te amor e recebi réstias de qualquer sentimento. Ofereço-te agora a minha ausência. Resta saber o que me irás oferecer desta vez.

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

A tempestade.

 Há dias como hoje, pequenos momentos, em que me sinto um grão de areia numa tempestade de emoções. Tento mudar de direcção e orientar os meus pensamentos para uma visão distinta mas a tempestade parece seguir-me. Mudo mais uma vez o meu rumo mas a tempestade faz o mesmo e acompanha-me a cada passo. As mudanças repetem-se infinitamente como um rito fúnebre que desloca-se lentamente madrugada fora. Apercebo-me então que a tempestade não é independente, causada por factores externos. A tempestade sou eu mesma. A única solução que me resta é conformar-me e deslocar-me pé ante pé através da mesma, manter-me firme e atravessar por entre grãos de areia até emergir na outra margem. É bem possível que aqui dentro não haja sol, nem lua, nem norte e em alguns momentos, hora nem tempo. Abro os olhos a medo e tudo o que vislumbro são pequenos grãos, finos como sal, dançando perante mim. Sinto-me a observar um ballet macabro protagonizado pela deusa da morte mesmo antes do alvorecer. Não posso recuar. Só me resta atravessar esta tempestade violenta, atroz e transformadora. Simbólica, sem dúvida, mas corta com a mesma força de mil navalhas e sangro de igual forma. Rasga-me a carne sem piedade. Sangue rubro e morno. Perderei aqui uma grande parte de mim. Sangue revelador que aparo com as minhas mãos em forma de concha. Quando a tempestade passar, ser-me-á difícil entender como consegui sobreviver. Terei certamente as minhas dúvidas se a tempestade realmente terminou ou se deixou em mim resquícios de luta guerreira. No entanto, saberei que jamais serei a mesma pessoa que era sol e raios de amor. Ninguém é o mesmo depois de uma tempestade.


domingo, janeiro 21, 2024

Domingo de solidão.

 


 Sente-me estas feridas que choram porque fizeste uma escolha. Entregaste o teu tempo a outrém e a mim o silêncio. Três horas sem palavras. Outras tantas de ausência minha. E então saberás que perdeste muito mais que a mim, perdeste as palavras que não me deste, só a ti te perdeste por mentiras e decisões. Logo tu que nunca decides nada, quiseste entregar o teu tempo a alguém que não a mim. E eu que não sou de implorar, pedi muito, calada, por entre orações e súplicas, que sentisses a minha dor e entregasses as tuas verdades no meu colo. Mas não conseguiste sentir mais que a alma que te roubou de mim neste Domingo de solidão e então eu guardei as minhas tristezas nas palmas das mãos e fechei-as com força. Tinha esperança que deixassem de doer. Fechei os olhos, deitei a cabeça na almofada e esperei que não fosse mais Domingo.