sexta-feira, março 16, 2007
Máscara
Ponho esta máscara todos os dias. Sorriso desenhado, estampado. E no fim do dia, quando tiro a maquilhagem, quando a cara de palhaço alegre vai agarrada ao pano que cai duro no chão, no fim do dia, eu sou eu. Não gosto de ser eu. Eu estou triste. Eu sou triste? Será que esta tristeza que me consome e suga as entranhas permanecerá aqui resoluta até de o meu corpo não restar nada mais do que uma casca, um invólucro seco e gasto? Eu não quero isso. Dizem que depende de mim ser feliz. Mas eu sinto que depende de ti eu ser feliz. É por causa de ti que eu estou assim. É por causa do meu amor por ti que estou assim. E odeio-me por isso. Não te odeio por não me amares, mas odeio-me por não te soltar. Não consigo soltar o cheiro da tua pele, o toque suave dos teus cabelos, a tua voz doce. Meu Deus, que amor pueril! Deus?! Deus não é para aqui chamado. Ele inventou o amor. Mas para quê? Para nos sentirmos vivos? Sim, mesmo assim nesta melancolia sufocante eu sinto-me viva. Vivo com a esperança de um dia descansares a cabeça no meu peito, de um dia me amares como eu te amo a ti. Amor! Eu amo, eu odeio. O amor faz sofrer. Não, não é o amor, é a falta dele. É o não ter que nos corrompe, que nos desilude, que nos atira para o canto mais recôndito e escuro da nossa alma. Talvez um dia. Talvez um dia seja feliz. Mas por agora tenho de continuar a usar esta máscara que me corta o ar, que me faz respirar sôfrega pelo que está lá fora, tanto pelo ar fétido como pelo melhor dos aromas. Com esta máscara disfarço a minha mendicidade. Mendigo por amor. Luto pelos mais pequenos resquícios desse sentimento que preciso, que necessito mais que tudo. Eu disse lutar? Mas eu não luto. Se lutasse, tinha coragem para finalmente o dizer. Mas não digo. Não agora. Não vale a pena. Vai começar um novo dia, o mesmo do costume. É melhor voltar a por a máscara.
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