sexta-feira, março 16, 2007

Sufoco


Tenho sono, mas não consigo dormir… Tenho os olhos a arder. Todas as noites, o mesmo ritual que culmina na cama. Deito-me e deixo cair a cabeça na almofada. Procuro uma posição. Mas não me sinto confortável em nenhuma. Ultimamente tenho sentido a cabeça pesada, como se fosse um saco demasiado cheio prestes a rasgar-se, a deitar tudo para fora, numa torrente caótica, descontrolada. Sinto-me preenchida. Mas não no bom sentido. Sinto-me cheia, como se tivesse comido demais. Mas sinto o cérebro congestionado, não o ventre. Está cheia, a cabeça. Demasiado. Não me consigo concentrar, é impossível entrar mais alguma coisa lá para dentro. Tapo a cabeça com a colcha e expiro, tento libertar-me dos pequenos punhos destes pensamentos que me martelam o crânio por dentro. A cabeça lateja, sinto o sangue passar quando ponho a mão entre a almofada e a cara. Passa. Pára. Passa. Pára. Passa. Pára. Adormeço, finalmente, extenuada de tanta força que fiz para dormir. Não sei quando, sonhos pesados, gordos, invadem-me a mente, tornam-se enormes, ilógicos, incompreensíveis, reais, confundem-me. Acordo estremunhada e olho para os números vermelhos do despertador. Ainda me faltam uma, duas, três horas para ter de me levantar. Sinto-me tão cansada. Viro-me para o outro lado e procuro adormecer outra vez. Espero que desta vez não sonhe. Desmaio. Negro. Algo me puxa. Os dedos gordurosos de outro sonho puxam-me a pele, arrancam-me os músculos, mas sinto-me cada vez mais pesada. Peso uma tonelada, não me consigo mexer, nada, não consigo respirar. Sufoco, tento chegar com as mãos à garganta, mas não, não dá, não tenho forças… Sento-me na cama de repente, o meu peito sobe e desce, frenético, levo os dedos ao pescoço frio de suores, estou livre. Olho para o lado. Faltam dois minutos para me levantar. Desligo o despertador. E deixo-me cair na cama. Tão pesada, tão pesada…

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