Olhei na direcção errada á procura do perigo. Julguei durante muito tempo que a tempestade que atormentava o nosso amor estava traçada, sem margem para dúvida, por uma monumental certeza. Percebi apenas após o meu momento de raiva e tristeza que no entardecer no sol estava quem procurava em ti o mesmo abrigo que eu encontrara. Não posso culpar os ventos que sopraram a teu favor quando foste tu quem aceitou que o dilúvio fizesse estalagem no teu coração. Não te importaste com o amor que difundiste no meu peito contra a minha vontade e aceitaste uma alma que poderia de todas as formas ser incluída na tua vida, nas tuas noites de loucura, no teu círculo de amizades, na tua família. Alguém com quem podes ser livre e amar ao mesmo tempo. Julguei ainda erroneamente que quando chamaste-me pelo nome dela, fosse apenas um lapso, mas eu já deveria saber há muito que a voz que o coração não cala tem sempre o mesmo significado. Sara, sara, sara... dizem que o tempo tudo sara. Mas como pode o tempo ajudar num verbo que tem a própria causa da minha desgraça nele impregnado? Dor, mágoa, sofrimento, tudo o que me prometeste nunca fazer sentir. Se eu te mostrasse o meu lado negro, irias ficar, dizias tu. "Eu nunca vou deixar-te, isso não acontece". "És a mulher da minha vida". "Nunca me apaixonei por uma rapariga assim tão rápido". "Sorte é ter-te na minha vida". "Eu amo-te tanto, meu amor". E as palavras caem por terra como se nunca tivessem sido proferidas. Frases que fizeram o meu coração resplandecer parecem nunca ter tido significado para ti. Vejo o teu semblante feliz e inabalável ao lado dela e só queria perguntar: E eu? Nunca signifiquei nada para ti? O que vivemos juntos não fez sentido nenhum para ti? Prometeste-me que daqui a dois ou três anos ainda estaríamos juntos e não me trocarias por uma menina da tua idade como eu receava. Como eu queria não ter tido razão! O tempo sara, dizem. Mas esta tempestade agora certa que banha os meus olhos não parece ter fim. Como pudeste ser tão cruel e estragar toda a nossa história?
Sem comentários:
Enviar um comentário