Antes de ti houve quem devorasse o meu corpo com ternura e malícia, quem desvendasse os meus segredos, curvas e imperfeições. Houve quem elogiasse o meu sorriso e dissesse que o meu semblante era capaz de apagar o cinzento dos dias. E eu sempre acreditei nessas palavras. Antes de ti, alguém abriu o meu peito, deixou o meu coração em ferida aberta e tornou o acto de respirar quase impossível. Houve quem me roubasse o brilho do olhar e me sabotasse a fé com mentiras e desdém. Antes de ti, o amor existia no meu dicionário. Antes de te aproximares eu já me passeava com a tua segurança, sublinhava vidas sem pedir licença e acreditava ser a solução para salvar almas danificadas como a tua. Eu suspirava ao som da tua música antes de te conhecer. Houve um tempo para abraçar-me e tocar-me no fundo antes de eu chorar todas as descobertas e perdas. Antes de ti já me sentia perdida num mundo de bandidos e ladrões, numa esfera de falsidade e promessas sem sentido. E por ti? Desfiz juras e caminhos. Voltei atrás. Antes de ti senti-me perdida. Contigo, amada mesmo que estivesses apenas a fazer de conta. Depois de ti? Abatida e a ti descrente. Se não posso confiar em ti, vou confiar em quem? Antes de ti eu já escrevia para espantar os demónios e o medo. Agora que me podem ler e saber o que senti por ti, aqui já fora da tua existência, falta-me tantas vezes o ar. Quase tanto como faltavam-me as palavras para chegar a ti. Antes de ti eu já sonhava com alguém que fosse autoritário e virasse a minha vida do avesso. Antes de mim -quero acreditar- tu quase nunca sentias. E eu sei que sentistes quando estiveste em mim e eu em ti. Antes de ti, eu nunca me atrevi a desiludir-me tanto e tão prontamente com alguém. Sinto quase como se tivesse levado um tiro disparado por ti e continuei (quase) viva...
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