Ficaste em mim com uma tatuagem sem tinta, sem agulha, sem coisa nenhuma. Bastou a tua existência para ficares marcado em mim. Deixaste em mim marcas que mais ninguém vê, cicatrizes que não são visíveis a olho nu. E eu não consigo apagar-te de mim. Tento todos os dias apagar um pouco de ti em mim, sempre sem sucesso. Nunca acreditei nos amores imensuráveis descritos nos filmes, nem acreditei ser possível um coração transbordar com tanto amor. Até que tu começaste a existir em mim. E doí. Imenso. Nos dias em que consigo manter a mente ocupada, as marcas quase que passam despercebidas, quase como se as tuas mãos não me tivessem tocado, nem a tua boca pronunciado as palavras que me fizeram ficar rendida a ti, um juro que não vou embora. E depois há os dias em que parece que o coração vai sair-me pela boca porque sinto-te pelo corpo inteiro e não sei como deixar-te ir, não sei como expulsar-te de dentro de mim. O tempo cura tudo, dizem, e eu só entendo que o tempo passa e tu continuas a doer. Não com a mesma intensidade porque as tuas palavras mudaram, mas continuas aqui. Mesmo que não estejas fisicamente, permaneces na rua onde vi-te pela primeira vez, nas músicas que me recordam de ti, nos pormenores semelhantes em outras pessoas que me levam a ti no mesmo instante, nas lembranças das palavras doces que carrego no peito. Nunca me ensinaram a arrancar de dentro para fora as recordações que rasgam a carne. Tenho-as sempre a fazer ginástica entre o coração e a mente, aqui e ali. A molestar a esperança que permanece, que me sussurra aos ouvidos que ainda vais perceber que é só a minha alma que queres encostada na tua e que o teu coração é meu. A assaltar-me a visão com uma imagem de ti, nem sempre nítida, mas tua sem dúvida alguma. Porque é que vieste ocupar espaço em mim se nunca tiveste intenção de ficar? Porque é que mesmo sentindo que estavas a partir aos poucos, ainda te sinto tanto aqui? Porque é que o teu silêncio incomoda muito mais que as palavras que nem sempre gostava de ouvir? Tenho cicatrizes tuas em mim que teimam em não sarar. Por mais que fuja, que corra, que esconda, que cale, que não conte a ninguém, esta dor não se descola nem desapega. Está aqui, estás aqui, de mão dada com a saudade. E com a desilusão. Não quero mais ser saudade nem desilusão. Não te quero mais aqui, mas tu estás. Quando é que vais embora de mim? Quando é que te desprendes da minha pele? Quando é que te desapegas do meu coração? Quando é que saltas da minha alma?
quinta-feira, agosto 27, 2020
Não quero ser saudade.
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