terça-feira, outubro 20, 2015

Antagonismo.




Se eu soubesse, por um fragmento de segundo,  que aquela seria a última vez que te veria, a última briga, a última despedida, eu teria dito tudo o que ficou por dizer. Teria gritado mais, gemido mais e amado mais. Teria ficado completamente fora de mim e cuspido violentamente as palavras que guardava dentro de mim e nunca te dizia por medo de perder-te. Eu podia ter feito tanto mais, muito mais. Jurar-te amor eterno, mostrar-te ao mundo, prender-te involuntariamente a meu lado. Mas os relacionamentos são assim, perfeitamente imprevisíveis. É impossível saber quando começam, quando acabam, quando são para sempre e quando vão terminar amanhã. Posso, no entanto, dizer-te, com toda a certeza que tenho dentro de mim, que eu senti, que eu amei e que eu, transbordei esse sentimento por ti de todas as maneiras que pude. Apesar de toda a mágoa, ainda sinto que todo esse amor não foi em vão e que não foste, de todo, um erro. Mesmo que eu esteja enganada, creio que quando conhecemos alguém que vale verdadeiramente a pena, sentimos na pele um arrepio inequívoco e um aperto único no estômago. Eu senti que tu valeste a pena. Ainda que eu não seja mais a tua primeira opção, que os ventos estejam a transportar-te numa nova direcção, que eu já não seja a protagonista de todos os teus sonhos nem em quem tu pensas a várias horas do dia, mesmo que nas tuas lembranças de mim eu não seja mais que ruínas, no meu profundo âmago, sempre amar-te-ei. Lembro-me quando ainda éramos meros desconhecidos e eu limitava-me a observar-te durante as aulas, quase a cada instante. Os nossos olhares cruzavam-se e eu tentava disfarçar, mas o meu coração gritava por ti e tu percebias e eu corava de uma forma desastrosa. Eras e sempre foste um verdadeiro sacana, mas isso não me impediu que eu te amasse com todas as minhas forças. Nós tivemos, durante quase vinte anos, uma história de amor linda: repleta de aventuras, traições, brigas que sempre acabavam connosco a fazermos as pazes da única maneira que sabíamos que nos entenderíamos perfeitamente. Durante algum tempo, transformaste em realidade as minhas ilusões, tornaste os meus sonhos realidade e derrubaste os meus medos. A nossa história foi quase um filme ou um romance épico: desastres, brigas, guerra, beijos. Mas meu amor, sabes que na nossa quase história quase romântica, nunca fomos mais que antagonistas e os protagonistas sempre foram o caos e a destruição que criávamos para evitarmos vermo-nos como o que sempre fomos: almas gémeas.



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