quinta-feira, outubro 02, 2014

Tudo o que tem um principio tem um fim.



Nunca foi rapaz de grandes emoções, sempre resguardado, parecendo-se tipicamente com qualquer membro do sexo masculino. Claro que tudo isto é um cliché, mas existe uma razão para que rapazes como ele continuem a fazer o nosso coração estremecer. Já há muito que perdi a conta dos anos e meses que por mim passaram mas a sua presença sempre foi uma constante; sempre por perto com o seu meio sorriso e palavras pronunciadas cuidadosamente; a maneira como inconfundivelmente anda pelas ruas. Subtilmente chamou-me a atenção com a sua altura que o discerne, o seu ar misterioso ( ou será reservado?) e claro que a partir daí o meu íntimo criou voz própria, comandando sem a minha prévia autorização qualquer decisão e antes que percebesse a confusão que dentro de mim se formava, o meu coração já corria livremente na sua direcção e eu já não controlava mais nada nem entendia a tempestade dentro de mim. Não parecemos ser compativeis explicados por palavras como estas; sou geralmente faladora com uma personalidade berrante e de constituição alta mas larga. Ele é ainda mais alto, mais reservado e emocionalmente morto no seu interior. Sou uma escritora, expresso-me quase sempre através de emoções (ainda que deteste demonstrá-las) e ele não aparenta sentir quase nada, á excepção de uma ou outra piada. O que se passa comigo é que gosto de rir, fingir que estou sempre bem e tudo isso. Mas escondo-me por detrás de fachadas, os rapazes sempre nos desiludem segundo a minha perspectiva; por isso optei pela solução mais viável: dedico-me a assuntos amorosos apenas com metade do meu coração na melhor das hipóteses, a outra metade sempre teve dono. E como conhece-me desde sempre, ele sabe, claro que sabe. Não entrego nada a não ser meu corpo apesar de ele dizer ser mais que isso, o que me enfurece. Não o desminto porque assim posso revê-lo e perguntar-me se ele pensa valer a pena lutar por mim.
Nunca soube explicar a atraçção fatal que me arrasta na sua direcção; adormece e ressuscita constantemente. Sempre fui descuidada e corajosa; mas quando decidi finalmente confessar-lhe os meus sentimentos, ele estava já comprometido. Foi o que eu precisava ouvir ou julgava eu ser o encerramento deste capítulo que eu necessitava. Entre viagens, livros e rapazes pouco memoráveis e o momento presente, o meu coração decidiu regressar a esse passado, sem avisar-me. 
No entanto, ás vezes simplesmente sentimos, sentimos coisas sem que os outros consigam entender o porquê. Eu juro, parte do seu charme é que ele aparenta nunca sentir nada; e eu só quero que se abra e confie em mim.
Aquele abraço apertado, a mão que se escapuliu apressadamente por entre os meus dedos, o beijo ausente que ficou por se pronunciar, foram os últimos sinais. Não sei o que esperava, então decidi regressar a casa, satisfeita. Nostálgica, feliz e um pouco de coração partido; sabor agridoce.
Não foi provavelmente uma boa ideia escrever os meus sentimentos e ouvir músicas sobre amores não correspondidos e lágrimas intermináveis. Não é uma sensação estranha , mas não é de todo que o que eu queria e é por isso que por vezes odeio . Especialmente rapazes como ele que não consigo perceber.
Acho que o amo, mas provavelmente não é isso; se calhar nem o conheço e conheco-o há tantos anos. Chorei no fim de cada canção mas sabia, bem no fundo, que não chorava por causa da música. Permaneci ainda uns minutos a olhar fixamente a estrada vazia onde provavelmente ele não passaria mais e a relembrar com tristeza os momentos que vivemos. Provavelmente não o verei tão cedo, também por não ser o tipo de pessoa que toma café. Pergunto-me se alguma vez revelará o conteudo do seu coração e embora eu saiba que nunca fomos um casal, é exactamente por isto que o meu coração jamais se voltará a abrir. Sempre que me lembrar dos momentos fantásticos que tivemos no meu quarto, o seu olhar reflectir-se-á no meu, com o seu desdém habitual e sorriso de menino matreiro de olho azul, e trá-lo-ei sempre dentro do meu peito. Sofrerei por algum tempo, mas voltarei a adormecer este sentimento incómodo; nunca gostei de demonstrar emoções e sei fingir extremamente bem. Ao menos sei que tentei. Costumo ser conhecida como a rapariga ligeiramente mal humorada que não se importa com ninguém nem com nada. Agora sei que tenho  sentimentos, que sei causar sensações( apesar de não me ter dado muitas oportunidades para isso) e que ficarei bem, espero que seja feliz. Pergunto-me se o tipo de vida que leva o satisfaz.
O que posso eu dizer, ás vezes uma rapariga como eu deixa-se levar, ainda que o rapaz não seja realmente um principe encantado e não tenha havido um começo nem um fim. A história sempre será minha e terá sempre significado.




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