Fantasmas do passado.

Ele permanece sentado mesmo a meu lado. A proximidade entre nós é chocante e reveladora mediante o toque dos nossos ombros. Ainda que esteja apenas a alguns centimetros de mim, deslizandos os dedos pelo seu iphone, abstraido no seu mundo, sinto saudades dele. 

Sinto uma agonia que me percorre a espinha e que me indica que, em breve, ele já não estará aqui. Estará em outros braços, regressando a uma vida passada. Ele diz-me que não irá retornar a esse instante da sua existência, mas eu sinto dentro do meu peito que tenho que o deixar partir. Mesmo assim, ele diz que deseja ficar. No entanto, o pressentimento que me percorre o corpo é avassalador. Eu serei esquecida, abandonada na companhia apenas de cicatrizes deixadas pela sua passagem na minha história. Ficarei relembrando os momentos inesquecíveis que escrevemos em conjunto... O que será de mim sem ele? O que farei a partir desse instante?

Descanso agora a minha cabeça no seu ombro. Ele queda-se completamente alienado a tudo o que acontece em seu redor. Ele diz que ama apenas três coisas na vida: a familia, os amigos e eu. Sempre gostei do seu rosto apaixonado quando detinha os seus olhos num dos objectos alvos dessa paixão. Em breve, não poderei admirar essa forma peculiar de olhar. Não verei o seu sorriso a cada manhã. Não poderei entrelaçar os meus dedos nos seus em cada tarde que os segundos passavam por nós a correr. Não terei a oportunidade de voltar a repousar a minha cabeça no seu peito enquanto me enlaçava com o seu braço. Não serei capaz de perder-me nos seus lábios ou no seu aroma único. Estas eram as pequenas coisas que tornavam a minha medíocre existência um pouco melhor. Como aprenderei a viver sem elas?

Mas, apenas á poucos minutos, quando se virou para mim, olhou-me profundamente nos olhos e disse-me que me amava, apercebi-me de algo. Ainda o tenho. O seu coração ainda me pertence segundo as suas palavras. Se será por somente mais alguns meses, semanas, dias, horas ou até mesmo minutos, ainda o tenho comigo. Aqui mesmo a meu lado. E vou viver cada segundo como se fosse o último. Porque amo-o e não me posso permitir continuar a pensar continuamente no instante em que o vou perder. Esse momento ainda não chegou. Tenho que viver no presente, e no presente, ele ainda me pertence. Ainda está aqui comigo e não irá a lado nenhum.
Cada momento deve ser vivido ardentemente. Deve ser preenchido até ao extremo com palavras de amor, abraços carinhosos e beijos apaixonados. Tudo e mais alguma coisa. Cada minuto deve ser usado de forma a que se esgote completamente devido a uma intensidade inebriante e indiscritivel. Tenho que recordar tudo o que faço com ele porque antes que me aperceba disso, irei perdê-lo. Tudo o que me restará serão memórias. Quero guardar apenas memórias de uma história de amor maravilhosa. Recordações que, ao olhar para o passado, me façam sorrir e dizer " Ainda bem que vivemos aqueles instantes. Sinto-me feliz por o ter conhecido. Ainda bem que passámos tempo juntos."  Por enquanto, ainda é meu. Pertence-me entretanto. Ele é meu, ainda o tenho. É tudo o que importa neste preciso segundo. É tudo o que sempre importará...