domingo, maio 29, 2011

Vestigios


Não, não me arrependo de ter-te conhecido um dia, mas se questionada se gosto das consequências do destino, diria que preciso de tempo para me reajustar á realidade.
Poderia dizer-te que sou infeliz sem ti, mas estaria a mentir descaradamente. Consigo preencher os meus dias com mil e uma coisas que me conseguem fazer igualmente feliz. Raramente penso em ti ou lembro-me de ti, factores que me provocam enorme alivio e acariciam a minha alma outrora demasiado cicatrizada pelas tuas ásperas palavras (ou ausência delas).
No entanto, não consigo evitar sucumbir quando te revejo ou encontro fotos tuas guardadas numa gaveta qualquer. Tinha-me esquecido o quão bonito és para mim. Tinha posto de parte todas as memórias que tinhas deixado em mim e todos os momentos em que o relógio parava o seu irritante tiquetaque só porque estávamos juntos.
Mas são os perturbantes vestígios que deixas ao passar que estragam tudo aquilo que venho a construir dentro e ao redor de mim. Aniquilas apenas com um sorriso levemente rasgado toda a força interior que ergui neste últimos meses.
Magoa-me, sabes? Magoa não o facto de não quereres que eu faça parte da tua vida, mas o não saberes o quanto eu queria que fizesses parte da minha. o quanto eu te quis entregar o meu coração, a minha alma e o meu pensamento e seguir em frente sem olhar para trás uma vez que fosse. Destroi-me saber que amas aqueles que não te dão o teu real e justo valor e ignoras quem se apaixonou por ti apenas por um olhar; quem viu em ti quem mais ninguém vê.
Afinal,fomos dois estranhos que nunca passaram disso. ESTRANHOS. Conhecemo-nos a fundo e como mais ninguém o fez mas nunca deixámos de ser dois desconhecidos. É demasiado assustador saber que apenas fomos assim porque ambos fomos demasiado cobardes: Eu não consegui explicar o que sentia porque eras mais forte que eu e tu não foste forte o suficiente para lutar por mim. Perguntei-me demasiadas vezes se terias vergonha de um sentimento tão puro assolar a tua alma... ou então se essa cobardia adviria do facto do objecto do teu desejo ser eu.
Acredito que nunca vou saber o porquê de tantos vestigios deixados por alguem que habitou o meu coração por tão pouco tempo. Pensei que ao fim de algumas semanas, tivesses desaparecido sem deixar rasto. Serão as fotos, as lembranças, o teu sorriso rasgado, as palavras que nunca me (des)disseste? Seria mentirosa se declamasse que consigo perceber. Libertei-me muito mais facilmente de pessoas que conheci durante anos e com quem fui (mais) sincera.
Neste momentos, principalmente ao cair da noite, quando é mais dificil suportar a tua ausência mascarada, peço, quase sussurrando, que cesses de existir através seja do que for e que leves contigo os teus malditos vestigios.

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