Passaram-se cento e noventa e duas horas desde que envolveste o meu coração nos teus esguios dedos e o levaste contigo. Sinto-me ainda tão perdida como se tivesse acabado de acontecer. " Eu não vou a lugar nenhum", prometias-me tu com o olhar mais sincero que eu julgava ter encostado ao meu. " Tu és a minha garota, eu amo-te", e eu voltei a acreditar em ti. Eu, que nunca confio em ninguém e cismo com a minha própria sombra, despojei-me de todas as inseguranças e entreguei-me sem medos nas tuas mãos. Eu que sempre fugi de intimidade e vulnerabilidade, por ti fui menina frágil e inocente. Contigo fiz tanta coisa pela primeira vez por sentir que serias para sempre. "Nunca vou deixar de amar-te, posso é nem sempre demonstrar esse amor" clamavas tu em meio rumo para a nossa caminhada. " Quero proteger-te até ao resto das nossas vidas", no entanto permaneço aqui envolta na escuridão e na solidão em que me lançaste. Descansei todos os receios nos teus braços fortes que me faziam sentir tão segura e irremediavelmente deixei-me ir. Ainda me doís no lado esquerdo do peito. A dor emocional cravejada no meu tórax parece quase física e não menos real. As palavras dignas de um conto de fadas deram lugar a facas afiadas que me desferiram golpes cruéis. " Só sempre senti uma amizade forte em vez de amor", foi neste instante que retiraste todo o amor que juravas sentir por mim e dei por mim a cair num abismo de ilusões. " Não senti saudades tuas", o momento em que me apercebi que afinal o resto das nossas vidas seria por percursos diferentes. O dia em que percebi que não voltaria a sentir os teus intensos beijos, as tuas mãos entrelaçadas nas minhas, os teus abraços em redor do meu corpo, o teu calor na nossa cama, no nosso quarto, os meus pertences enjaulados num saco aleatório como se fosse a tarefa mais fácil expulsar-me da tua vida sem dó nem piedade; esse foi o dia em que uma parte de mim fatalmente morreu e permaneceu contigo. Nunca voltarei a ser inteira como fui contigo, mijn liefje. Nunca voltarei a permitir que alguém me abandone da forma vil que tu fizeste, sem arrependimentos, sem remorsos, levando o meu coração esmagado entre as suas mãos. E imersa nesta grande tristeza, volto a soluçar por entre lágrimas, lamentando não teres sentido arrependimento pela tua inclemente decisão.
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