sexta-feira, março 29, 2013

Coração idiota.




Esborratem-me o coração. Apaguem-lhe as cores vivas que sempre o caracterizaram e roubem-lhes as emoções intensas que nele se escondem. Os meus sorrisos são pouco frequentes devido a este ingrato orgão que se delicia balançando-se nos teus dedos conforme a tua vontade. Esvaziem-me de sentimentos e deixem-me ser alma desprovida de vida, um cerne apático perante pequenos momentos que fazem palpitar qualquer coração. Esta súplica ofegante é consequência reflectida de um sofrimento que se prolonga e arrasta, colando-se e rasgando um intolerante peito que alberga um coração que sente em demasia. A alma distorcida queixa-se e reclama da minha ausência de coragem, quase ordenando que mande o coração calar-se para sempre. Eu sussurro, único acto que me é permitido efectuar, mas os gritos quase mudos morrem-me na garganta, talvez por saberem que não desejo, de modo algum, cessar os sentidos. Estou definhando lentamente, perdendo sopros de vida a cada dia que passa e  que me arrancas um novo pedaço de sangue na forma peculiar de lágrima; no entanto, existe um prazer masoquista nesta lenta e sádica morte que me consome por dentro. São talvez os momentâneos instantes de ternura e forma estranha de amor que me impedem de clamar, com os pulmões repletos de oxigénio, o desejo de liberdade, o mesmo desígnio que corrompe a minha alma e a faz revoltar-se vezes e vezes sem conta, contra este coração idiota que permanece entrelaçado nos teus dedos.

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