A nossa ligação vai muito além de envolvimento físico ou bocas entrelaçadas. É incrível como a banalidade desses momentos tornou-se algo usual nos dias de hoje. Perderes o teu corpo nu durante algumas horas, beijando um estranho e roçando o teu tronco num outro alguém, não é o mesmo que tornar-se íntimo. A intimidade, antes de tudo, não é física. Pode expressar-se de forma física, mas jamais começa aí. A intimidade mora na alma, na troca de olhares, nos sorrisos tímidos repletos de significados, no silêncio das conversas que dispensam palavras. Acontece no encontro do que há de mais profundo em mim com o que há de mais profundo em ti. Intimidade é o espaço onde posso existir como sou, ser eu mesma, com as minhas imperfeições, virtudes, perspectivas, pensamentos e vícios. Intimidade é onde posso existir na medida certa e saber que tu vais abrigar-me. É poder dizer-te o que para os outros será sempre silêncio. De todas as intimidades possíveis entre nós, nenhuma é mais profunda do que a sinceridade. Intimidade é poder ser verdadeira e dizer sempre a verdade. Não a verdade absoluta porque ela não existe, mas poder dizer as minhas verdades. As minhas peculiaridades. É ter a certeza de um porto de abrigo no teu abraço, distante de tantos outros âmagos que não me compreendem. Intimidade é sentir os pés bem assentes no chão, firmando raízes profundas, preparadas para enfrentar qualquer vendaval. É o lugar onde as mentiras não precisam ser inventadas e as verdades não precisam ser camufladas. A intimidade não surge do dia para a noite. É uma construção que demanda paciência, tempo e investimento. Por isso, cada vez há menos almas dispostas a cultivar intimidade. A velocidade e superficialidade de tudo colocaram os relacionamentos profundos em extinção. Tudo é liquido e efémero. A tragédia é que, sem intimidade, somos escravos de amores temporários procurando alguém que nos sacie uma sede que nunca se extingue. Relacionamentos sem intimidade são vazios, ocos, impessoais: os favoritos de índoles desprovidas de sentires intensos e reais.
Sem comentários:
Enviar um comentário