quarta-feira, setembro 02, 2015

A pessoa de quem nunca falo és tu.



A pessoa de quem nunca falo és tu. Depois de matarmos os nossos sentimentos, enterrei as nossas memórias no soalho do meu quarto. Vou tratar-te por Bruno, porque se fosses meu, sei que era esse nome que gostavas de ter e é um bom disfarce para fugir do momento que insiste em nos manter separados. Os teus pais fizeram de ti a dificuldade que és para mim hoje em dia: Um não sabe amar porque não é capaz de sentir, e o outro que finge não amar porque sente demasiado. Mantens a tua distância de vítimas por causa das tuas raízes distorcidas e que confundem todos os que não te conhecem como eu. Não suportas pessoas que choram como se não houvesse amanhã e que condenam todas as soluções e saídas de emergência; que só percebem o seu próprio sofrimento, que desabam sobre si mesmas e que tentam, a todo o custo, arrastar os outros com elas. Estás plenamente convencido que não sentes dor e que ninguém tem a capacidade de magoar-te até á profundidade da tua alma, mas enganas-te porque eu consigo ver para além dessa farsa defensiva que és. Só percebes que amas alguém quando consegues finalmente afastá-la da tua vida, e se possível, para fora do teu mundo de forma irreversível. Não gostas de meios termos, nunca gostaste. És tudo ou nada. Não te permites ter alguém a teu lado, a fazer parte da tua vida porque acreditas veementemente que todos vão acabar por magoar-te, quando na verdade, tu não consegues ser de alguém. Queres apenas quando já não podes ter e acabas por confessar que quando podias ter, não o querias verdadeiramente. Só desejas o inantigível, o inalcançável, o que não te deseja de volta. Afastas-te de tudo o que te possa fazer sentir mais do que te permites, não queres deixar fluir a humanidade que existe em ti e fazes com o que os outros vejam somente maldade em ti. Fazes o possível para que todos desistam de ti perante a tua ambiguidade e incapacidade de te perceber. Induzes os outros em erro e provocas um desamor por ti equivalente á falta de amor que nutres por ti mesmo. Demonstras querer ficar quando já estás a pensar em mil e uma formas de partir e qual delas será mais dolorosa para quem permanece. Não sei de onde vem esta relação intrinseca que tens com o mistério, a solidão, a dualidade: porque vais e vens, vais e vens e perdes-te sempre um pouco de ti e dos outros; encontras apenas cada vez mais solidão. Não sei de que tens tanto medo além de ti próprio: se fosses mais, sentir-te-ias menos perdido; se fosses menos, serias mais. Mesmo que nunca venhas a ler esta tua caracterização, gostava que soubesses que não estás sozinho. Eu estarei sempre aqui, mesmo que não me queiras. Não me fui embora e duvido que algum dia seja capaz de o fazer. Nunca consegui dizer ao meu coração para abandonar-te de uma vez por todas. Esse teu coração já foi tantas vezes rebatido, pisado, rasgado, triturado e mesmo assim consegues continuar o teu caminho. Admiro-te tanto por isto e muito mais, mas ao mesmo tempo, tenho medo de ti e do poder que sempre tiveste sobre mim. Afastei-me primeiro porque não suportaria que fosses tu a afastar-me, que fosses tu a desistir de mim como deixas os outros. Eu sei que não vês a beleza imensurável que existe em ti, que não acreditas que alguém possa amar-te . Transformaste-te por ouvires como era não amar-te ou como era alguém não gostar do que eras. Mas tu deixas de ser tantas vezes, deixas de ser quando te magoam, quando te desamam, que deixaste de acreditar que tinhas um coração.Estou a escrever sobre ti e, no entanto, estás em constante mudança. No instante em que acabar de escrever sobre ti, já não serás exactamente igual ao que descrevi. Serás mais louco, mais instável, mais inseguro mas sempre dono de uma beleza invulgar. Como podes ser tu o homem de quem nunca falo? Tu percebeste perfeitamente que durante todo este texto, estive a falar de ti e sabes perfeitamente que eu nunca me canso de falar sobre ti...

1 comentário:

O Profeta disse...

Ouvi o vento e a música
Procurando um porto na madrugada
Ouvi a chegada de um navio
Julguei sentir uma voz amada
Uma criança jogando lama ao meio dia
Embrenhada e perdida na alma
Com rimas colorindo pálpebras de nostalgia

Doce beijo