domingo, julho 26, 2015

Porto (in)seguro



Senti a tua mão desprender-se da minha, muito antes de acontecer. As palavras perderam-se pelo caminho e a minha voz há muito que deixou de alcançar-te. O porto seguro que imaginei ter sempre por perto, abandonou-me, tornando-se âncora de outros sentidos. Levou-me em pedaços, restando pouco de mim neste desconforto que me atormenta. Não conheço quem te embala agora quando tu te tornas em medo por inteiro, quem te abraça e deixa-te perderes no seu regaço, quem é mais digno aos teus olhos que eu. Não sei se será o desconhecido que me desnutre o coração, se será a tua doravante ausência de palavras a confortar os meus dias, ou a certeza que jamais voltarei a sentir um toque ou uma carícia tua. Sinto-me perdida, á deriva no mar que eras tu e que alberga agora outra alma que se encontrou em ti. E ninguém sabe que te perdi ou até, deixei ir deliberadamente, porque ninguém soube, em momento algum, que ainda te guardava comigo. Nunca bradei o quanto te preservava dentro deste meu peito e como eras o meu porto de abrigo nos piores e melhores dias de tempestade. Não sei mesmo o que me mata mais; o desconhecido, a saudade, a chaga no coração, a despedida, a amargura das nossas palavras. Sinto-me vazia de tudo e a afogar-me na tentativa frustrada de voltar a encontrar-te como cais. A água penetra-me violentamente os pulmões, sufocando-me, salgando-me o esófago e tornando-me fria por dentro e por fora. Ainda que esta fúnebre metáfora seja apenas isso, nunca voltarei a ser completa sem uma palavra tua, sei disso. Os dias continuarão a prolongar-se e a passar através de mim, mas jamais sentirei de novo o fervor no peito causado pelos nossos encontros, nem a alegria desmesurada fruto de uma mensagem qualquer tua. Continuarei por aqui, mas sem ti, o que me resta perguntar é somente: por quanto tempo mais?

Sem comentários: