sábado, agosto 03, 2013

Ausência de claridade.


Escarneci do teu silêncio enquanto cerravas por momentos os olhos e admirei solenemente o meu percurso uma derradeira vez. As sombras nele projectadas haviam perdido todo o seu significado nesta ausência de claridade. Levei a mão ao lado esquerdo do peito, tentando acalentar um coração queimado pela falta de palavras mas a escuridão atingiu-me o tronco antes que eu pudesse defender-me destes ataques ferozes.  Pedi refúgio no amor que dizias sentir por mim, um abrigo que me escondesse dos violentos embates que se direccionavam repetidamente ao meu dolorido tronco. Mostrei-te a alma despida de maldade, entreguei-te as palavras mais inocentes que conhecia e invoquei um subconsciente retinente de ingenuidade de modo a convencer o teu ser. O silêncio voltou a fazer-se sentir sobre mim á medida que a escuridão tornava-se mais densa. O meu coração mal se fazia ouvir perante os ataques gradualmente mais intensos contra o meu tronco. O seu bater arritmado não se conseguia impor a uma escuridão aliada ao silêncio imperioso banhado por murmúrios e palavras inaudíveis. Tu continuavas ausente, escondido numa cobardia disfarçada de preocupação, com traços rabiscados de um amor que não estava presente em artéria alguma. Cessei os meus lamentos á tua alma, decidindo por fim que encontrava um maior conforto nas trevas e no absentismo de palavras do que nos afectos fingidos que outrora disseste abrigar algures, num recanto esquecido de ti.

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