quarta-feira, julho 31, 2013

(l)overdose.


Sabes quando o amor é simplesmente perfeito? Sabes qual a sensação de encontrar alguém que possua a medida exacta para que os seus dedos se entrelaçem nos teus? Quando o sorriso dessa pessoa representa o nascer do sol que simboliza a tua felicidade? Apenas um simples pensamento que contenha esse ser cria uma corrente sincronizada de borboletas na boca do teu estômago, mas no bom sentido. Quando acordas cada manhã com o aroma dele a pairar a teu lado, ou uma mensagem de texto carinhosa dizendo-te tudo o que sonhaste ouvir. Quando essa alma faz-te sentir como se fosses o único ser humano á face da terra e apercebes-te de uma fonte inesgotável de amor, como se nada nem ninguém conseguisse destrui-la?
Não posso descrever este tipo de amor. Posso, contudo, explicar o lado negro deste afecto. O tipo de amor que parece ser venenoso, uma droga viciante que corroi as tuas entranhas e apodrece todo o teu interior. O tipo de amor que te deixa apática, com um vazio incalculável, e ao mesmo tempo, por muito contraditório que seja, envolvida numa dor excruciante. Quando te encontras numa realidade em que estás sozinha no teu quarto escuro ás três da madrugada, apenas olhando a parede em estado catatónico quase, um estado causado pelos contínuos pensamentos que te fazem questionar como tudo chegou a esse ponto? Quando achas demasiado familiar o sabor das tuas próprias lágrimas e os teus olhos acabam por secar por não conseguires chorar mais. O tipo de amor que te faz estremecer na solidão da tua cama, ponderando ansiosamente se ele vai abandonar-te (novamente) pela milésima vez. Imaginando, numa constante batalha contigo própria, se é realmente culpa tua, se é na verdade o tipo de realidade que mereces? É semelhante a comparar o céu e o inferno, pelo menos, segundo os meus padrões. Algumas pessoas são abençoadas com amor, com um individuo perfeito, com flores e corações a pulularem no seu peito, com uma paz interior dançando em seu redor. Mas, alguns seres, são amaldiçoados com amor, com olhos inchados, corações pesados, com espinhos rasgando por entre a pele.
Nunca viciei-me em substância alguma, mas imagino que seja desta mesma maneira. Conheces uma pessoa que acreditas ser a certa para ti, intrigante e acabas por querer desvendar o mistério latente por detrás dela. É o teu primeiro sucesso, a tua primeira amostra, a primeira injecção, o primeiro gole: a primeira vez que a substância ilicita percorre a tua corrente sanguínea e a euforia toma conta de ti de uma maneira absolutamente perfeita. É uma sensação reconfortante e magnífica, fazendo-te sensoriar coisas que nunca sentiste em um milhão de anos. Queres sempre mais, aliás, precisas de mais. Precisas dele: do seu corpo, do seu cheiro, da sua voz, do seu tom, da sua presença, do seu sentimento, das suas promessas, precisas desesperadamente de tudo a ponto de tornares-te avarenta. Tornas-te viciada nesta pessoa, basicamente, a tua droga pessoal, desenhada somente para ti. É nesta altura que a escuridão se apodera de ti. Esta substância não é exactamente o que tu pensavas que seria, mas estás desesperada. Já não serve para ti. Os seus argumentos e falta de comunicação e não perceber o que tu queres. São as discussões que te desgastam, os vidros despedaçados, as cicatrizes e o desejo. O vício. A adrenalina e os gritos e o desespero colado á almofada semi-húmida. É o implorar e suplicar e prometer que farás qualquer coisa por mais uma pequena dose, apenas um pouco mais dele, desde que não te retire a proximidade entre ti e o vício. Não consegues viver sem isso e nesta altura, o cenário mais assustador e triste é uma realidade: perdeste a tua identidade. O teu bem mais valioso perdeu-se nesta dependência. Perdeste amigos, família e as pessoas olham para ti com comiseração, começam a reparar que cada vez mais tornas-te menos pessoa e mais fantasma, uma sombra de ti própria; começam a notar os olhos pesarosos e a figura abatida. Continuam a falar contigo mas tu já não as consegues ouvir.O mundo continua a girar e rodopiar em teu redor em cores e velocidades furiosas, causando-te nauseas, por isso decides permanecer na escuridão do teu quarto, o único lugar que ainda consideras seguro. Eventualmente, começas em reabilitação. Exclui-lo da tua vida, desintoxicas-te da sua existência, ele desaparece á mesma medida que as tuas necessidades. Mas nunca dura muito tempo, pois não? Porque ele volta, volta sempre. Uma mensagem dele, um simples " Olá, tudo bem?", uma chamada perdida, um " Sinto a tua falta", uma noite de sexo casual... seja o que for e ele volta a penetrar no teu sistema nervoso e tu relembras como esta sensação era extasiante, e antes que te apercebas disso, voltaste ao mesmo ciclo vicioso e acabas por conformar-te, repetindo vezes e vezes sem conta que esta droga é tudo o que precisas, ainda que ela não te queira de volta. Apenas usa-te, brinca com a tua mente e os teus sentimentos de maneira a obter aquilo que deseja. E voltaste á escuridão, sentada no teu quarto, agarrada uma chávena de chá esquentado, com lágrimas a percorrem-te as faces, enxugando as mesmas com as palmas das mãos, soluçando, odiando-te a ti própria por deixares o vício reentrar na tua vida, acreditando que esta droga iria finalmente amar-te da maneira que tu a amavas, por acreditares que apenas desta vez terias o teu pedaço de paraíso. Mas acredita em mim: Nunca encontrarás o céu se permaneceres eternamente no teu inferno e esses espinhos nunca serão flores se continuares longe da luz do sol. Existe uma frase que diz: " Eu tê-lo-ia seguido até ao inferno se ele me tivesses pedido, e considerando tudo o que ele me fez, se calhar segui-o realmente."  Se calhar segui-o realmente...

1 comentário:

Cláudia S. Reis disse...

Wow! Está um texto mesmo poderoso!! Mostras os dois lados do amor. Lados esses que muitas vezes caminham lado a lado...