sexta-feira, maio 24, 2013

Uma vida inteira.



Sinto amor por tua causa, sinto mágoa por tua causa. Gostava de deter-me perante ti e desdobrar-me em palavras como se fosse um livro lido diversas vezes. Queria ser honesta contigo e narrar-te tudo o que me incomoda dentro de mim e mais propriamente, as preocupações que se colam á minha alma e ao meu coração há muito tempo. Mas não consigo. Tenho demasiado medo de sofrer, de descobrir a verdade - uma realidade que, provavelmente, difere em tudo da minha. Em vez disso, sento-me aqui e soletro as palavras e sentimentos que sou demasiado cobarde para olhar-te nos olhos e explicar. Atormenta-me, de forma extremamente cruel, esta incapacidade de penetrar no teu cerne e remover todas as preocupações que te consomem e que recusas, de forma totalmente egoísta, a partilhar comigo. Doi-me em cada gota de sangue que percorre o meu tronco, a tua ausência de confiança e de cumplicidade nesta ligação que, para mim, é universal e parca em segredos. Dilacera-me o coração o teu silêncio mordaz e a latente falta de cuidado com os meus sentimentos, a frieza com que recebes os meus beijos e gestos de carinho tão meticulosamente elaborados. Guardar todas estas palavras apertadas dentro do peito, torna-o cada vez mais pequeno e, como consequência, sinto-me aprisionada, privada de uma felicidade que deverias ser tu a transmitir-me. Nunca te disse como realmente me sentia, porque as palavras morrem-me na garganta de cada vez que produzes pequenos instantes que me fazem estremecer, sejam eles um cândido sorriso ou um olhar devastador que me mata a coragem. Vou agarrando-me, enquanto posso a estes raros momentos, sempre na esperança que um dia nasça em mim uma vontade avassaladora de destruir-te com os meus vocábulos ou que, numa remota hipótese, transformes os poucos segundos de felicidade em uma vida inteira.

Sem comentários: