quarta-feira, dezembro 19, 2012

Sentimentos corrosivos.



Deixei que a máscara que protege usualmente o meu rosto, caísse ás tuas calejadas mãos. Sem saberes como reagir, escondeste o olhar assustado, culpa das minhas lágrimas e fugiste dos vocábulos que se revelavam agressivos perante uma nova traição. Eu tentei desesperadamente guardar dentro de mim estes sentimentos corrosivos durante o que julguei serem anos, mas os mesmos estavam a transformar-me em algo que não tenho intenção de ser. Senti o pânico percorrer-me o corpo e, embalada pela ilusão e, sobretudo, pela desilusão, peguei neste afecto a que apelido, erroneamente, amor e ameaçei afastá-lo de ti. Bradei, com o peito cheio de raiva e o coração desfeito pelas lágrimas que ameaçavam irromper do meu  triste olhar, abandonar-te na escuridão e devolver-te a liberdade que me entregaste quando prometeste ser meu. Reuni todos os sentires num último fôlego e, sentindo uma agonia dilacerante, pronunciei vocábulos que me estavam a matar á medida que saiam velozmente dos meus lábios, aumentando gradualmente a súbita vontade de esquecer o teu nome, o teu rosto, o teu amâgo. Procurei desesperamente os olhos que evitavam encontrar os meus, tentando encontrar um resquício de vontade, uma réstia de desejo que me gritasse silenciosamente uma súplica.... Não encontrei nada. O teu olhar, vazio de emoções, desviou-se do meu e, as palavras que ouvi, destoavam do que o teu semblante me contava e, principalmente, do que o meu coração dizia sentir. O dolo das tuas acções perfurava o sossego que se fazia sentir e a ausência de ruído era demasiado inquietante. Assenti, fingindo perdoar uma vez mais as tuas falhas e cerrei os lábios, assassinando as últimas expressões que ameaçavam fazer-se ouvir. Eu juro-te, desejei, naquele instante, esquecer todos os teus lacónicos erros e crer no que me narravas pacientemente, aguardando que as minhas lágrimas intercalassem a tua dicção; no entanto, o meu coração raramente se engana e as constantes traições e arrependimentos do passado ensinaram-no a ser desconfiado. Sabes, é que o meu peito aprendeu a distinguir mentiras e ressente-se sempre que as palavras entregues a esta alma tentam ludibriá-lo. Assim, por mais que eu tente continuar a alimentar este amor, os afectos estagnaram e o meu coração clama por vingança em cada beijo teu; aspira por sangue em cada gota de saliva que extinguimos; anseia por morte em cada abraço apertado em que enredamos os corpos suados. E eu resguardo-me, aniquilando quaisquer afectos que o meu tresloucado espírito possa reacender por ti, aguardando com uma recém-fabricada serenidade, a minha oportunidade de retornar-te palavras ardilosas, traições perpetradas e sentimentos falaciosos. Porque, amor, rasgar a carne a quem nos devorou tão avidamente a vivacidade, denota somente a perplexidade inerente a um sentimento tão voraz como o ódio que um dia foi, certamente, gerado pela paixão.

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