sexta-feira, julho 27, 2012

Há coisas que nunca te diria.



Há coisas que eu nunca te diria. O silêncio é quase sempre a solução perfeita quando as palavras que me surgem nas extremidades do coração assustar-te-iam. Tu, pelo contrário, não disfarças pensamento algum e disparas verbalmente chagas e feridas que de tão acutilantes, rasgam-me a  alma. Atravessam a pele e suplicam por lágrimas sentidas, mesmo sabendo que eu nunca acreditei no verbo chorar. Atacas-me ferozmente, quiçá, consequência injusta da solidão em que te encontras imerso e contra a qual eu jurei lutar a teu lado. Os teus braços, no entanto, tardaram em envolver-me o solidário tronco e continuaste, teimosamente, a sentires-te sozinho, não por necessidade mas por opção. Eu sofro por ti, sabes? A tua solidão roça-se na minha, sendo a minha, todavia, criada pela tua ausência e deveras de fácil resolução... enredavas-te nos meus afectos, cessavas de lutar contra o que o teu coração te murmura e juntos, expulsariamos todos os sentimentos nefastos. Mas há coisas que eu nunca te diria. Não poderia simplesmente dizer-te que as tuas palavras arranham-me o coração, deixando-o sujo de fragmentos teus; nem poderia segredar-te a dimensão da dor que me esmaga os ossos ao ver-te abandonado e desesperado, num desalento que se torna meu por querer-te tanto. E quero-te, sem dúvida alguma, digo-o numa pronúncia firme e vagarosa, quase que para confirmar esta certeza ao meu íntimo; para que o meu amâgo, de algum modo, passe a palavra ao teu. Esta angústia que me consome e torna o meu interior escuro e sombrio nasce por haver coisas que eu nunca te diria. Conheco-te como cada canto do meu cerne e tenho medo do que poderia acontecer-nos caso te dissesse tudo o que sinto...

1 comentário:

Patrick Jane disse...

Fiquei sem palavras! Identifiquei-me tanto com este texto! Muito forte mesmo!