Memórias infelizes tendem a ser persistentes e acutilantes. São especificas e esses detalhes minuciosos recusam-se a deixar a tua mente descansar. Prendem-te nesses segundos de agonia e o teu interior, fatigado pelas imagens que é obrigado a reviver, não se consegue libertar. As lembranças do passado não te abandonam mesmo que concentres todas as tuas forças nesse desejo e negam-se a deixar que te esqueças. Ainda que uma pequena recordação de felicidade possa permanecer a teu lado, outra que te faz sentir miserável, deixa-se ficar do mesmo modo e, em muitas alturas, sobressai. Os bons agoiros que recordas acabam por moldar-se a ti e tornam-te mais flexível com o tempo. Relembras simplesmente que eras feliz e não os momentos individuais que causaram essa plenitude que afagou outrora a tua alma receosa . A recordação de algo doloroso faz exactamente o contrário. Mantém a sua forma original com os seus ossos pontiagudos e ombros afiados. De cada vez que a mágoa regressa ao teu corpo e mente, sentes um dedo acusador, um arrepio na coluna ou um soco no estômago. A recordação dos momentos em que sofreste tem o poder de te magoar ainda que tenha passado algum tempo sobre os mesmos. Sentimos a ferida a latejar em cada novo e único instante em que pensamos nisso.
4 comentários:
como se tivesses escrito para mim... incrível.
tão verdade...
Tão verdadeiro! Identifico-me no teu texto (:
Difícil tirar do pensamento quem está no coração!
Mais um texto lindo :)
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