quinta-feira, janeiro 19, 2012

memórias.


Memórias infelizes tendem a ser persistentes e acutilantes. São especificas e esses detalhes minuciosos recusam-se a deixar a tua mente descansar. Prendem-te nesses segundos de agonia e o teu interior, fatigado pelas imagens que é obrigado a reviver, não se consegue libertar. As lembranças do passado não te abandonam mesmo que concentres todas as tuas forças nesse desejo e negam-se a deixar que te esqueças. Ainda que uma pequena recordação de felicidade possa permanecer a teu lado, outra que te faz sentir miserável, deixa-se ficar do mesmo modo e, em muitas alturas, sobressai. Os bons agoiros que recordas acabam por moldar-se a ti e tornam-te mais flexível com o tempo. Relembras simplesmente que eras feliz e não os momentos individuais que causaram essa plenitude que afagou outrora a tua alma receosa . A recordação de algo doloroso faz exactamente o contrário. Mantém a sua forma original com os seus ossos pontiagudos e ombros afiados. De cada vez que a mágoa regressa ao teu corpo e mente, sentes um dedo acusador, um arrepio na coluna ou um soco no estômago. A recordação dos momentos em que sofreste tem o poder de te magoar ainda que tenha  passado algum tempo sobre os mesmos. Sentimos a ferida a latejar em cada novo e único instante em que pensamos nisso.

4 comentários:

n. disse...

como se tivesses escrito para mim... incrível.

cat disse...

tão verdade...

Andreia disse...

Tão verdadeiro! Identifico-me no teu texto (:

Anjo Selvagem disse...

Difícil tirar do pensamento quem está no coração!
Mais um texto lindo :)