sexta-feira, setembro 23, 2011

Chuva




Esta manhã, ao olhar pela janela vi que o tempo estava cinzento e que as nuvens aglomeravam-se no céu em circulos perfeitos de pluviosidade.
Ao contrário do habitual,as gotas de água que descendiam não eram frias nem molhavam a terra já húmida. Apenas emitiam um leve arrulho quando embatiam contra o chão e, apesar disso não ser possível, quase que poderia jurar que lançavam sílabas ou até mesmo palavras.
Era algo diferente este dia de Outono. Todos olhavam para mim de uma maneira peculiar enquanto eu regozijava a chuva e sorria devido á ausência do sol. Apesar de tudo, eu não me importava. Chovia abundantemente, era o meu clima preferido e o suficiente para que eu tivesse um dia melhor que a média dos restantes em que eu, tantas vezes, sentia-me sozinha e triste.
Mesmo assim, não conseguia evitar os olhares de todos os outros que, sem saber bem porquê, olhavam-me como se eu fosse diferente. Miravam-me como se eu estivesse sozinha ou como se não pertencesse ali.
Após percorrer algumas ruas, senti a tua presença de uma forma inexplicável; na porta do bloco onde agora moras. Notei que olhavas na minha direcção como se projectasses pensamentos que me dilaceravam o peito. As tuas crueis palavras diziam-me que além de já á muito teres esquecido que eu existia, nunca tinhas realmente pensado em mim e que eu, apesar de todo o amor e de tudo o que tinha feito por ti, nunca tinha passado de uma distracção...
A chuva aumentou repentinamente, como se estivesse transtornada, trazendo com ela granizo, frio e ventos demasiado fortes que me impediam de continuar a caminhar. Aí, finalmente, percebi o motivo de todos olharem para mim como uma estranha.
Na verdade só chovia no meu espirito e a intensidade desta chuva dependia apenas da tua prolongada e dolorosa ausência nestes últimos meses...

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