quinta-feira, setembro 29, 2011

O coração não se cala


Todos os dias acordo, ouço principalmente os autocarros a passar no lado de fora da janela. Ouço cães e gatos que brincam alegremente e sinto ao de leve o cheiro fabuloso de café. Não ouço o sol porque ele não fala e mesmo que falasse, certamente preferia calar-se. Se calhar, até fala mas fica calado para que possamos disfrutar do silêncio. E é esse silêncio, essa ausência de ruído que nos faz pensar, como a saudade que a distância causada por uma pessoa traz, pode ser cruel. São as ausências de um abraço carinhoso ou de um beijo demorado numa face, aquele sorriso timido ou o timbre de voz que estávamos tão habituados a ouvir.
Abro a janela que me afasta de uma existência lá fora e isola-me neste mundo tão meu. Debruço-me e vejo o céu azul. Claro como água límpida de um riacho. Penso em ti. Recordo-me de todas as fotos que tenho tuas, guardadas num canto escuro do meu coração. E quando me vens á cabeça, a única imagem que guardo tua é aquela em que sorris e os teus olhos brilham no momento em que nos vimos pela última vez. Escondo a fraqueza onde o ego não a possa desvendar e choro. Oh, eu choro. O coração não se cala, teima em gritar abertamente que tem saudades tuas. Não se farta, não se importa que eu o queira silenciar e berra desalmadamente que tu eras único, brilhante e especial. Deseja amargamente que tu te apresses e que voltes antes que o amanhã acabe. És um carinho embrulhado em forma de menino. Os teus lábios, as tuas mãos, o teu olhar tão resistente e tão meu. És o sorriso que tantas vezes carreguei no meu olhar triste agora que partiste de mim.
Fecho os olhos e sinto que ainda estás a meu lado. É tudo mais fácil quando perco-me neste mundo faz-de-conta e vejo-te ao meu lado. Sinto-me feliz por sentir as coisas que sinto neste abraço tão apertado.
E rasgo o rosto num sorriso que ninguém alguma vez conseguiria imitar ou refazer para que o coração se cale, de uma vez por todas.

1 comentário:

Dário Rodrigues disse...

Espero mesmo que esse teu coração nunca se cale... e grite como grita agora com essas palavras que é uma delícia ler. E espero que ele se torne num coração feliz...