segunda-feira, dezembro 11, 2006

Confissão


Escrevo...
Sonhos desfeitos enclausurados neste abandono de mim, belezas perdidas em frinchas de portas que não abri, mágoas feridas e dores por vir, pesares cobrindo o que resta de mim, correntes de fogo que me envolvem, lágrimas que caem pausadamente sobre a minha face gelada...

Sinto...
Coração apertado, as mãos aquecendo o que de ti ainda prendem, os braços desamparados, o olhar perdido na vastidão do espaço, as pernas tensas, a boca em sofreguidão... um abandono...

Beijo...
Este espaço vazio que antes ocuparas, a cadeira onde te sentaras, o sentimento que alimentaras, beijo as curvas da estrada por onde andaras, as estrelas que observaras, os rios de pó que me ofereceras, beijo tudo amor, beijo tudo e escrevo... escrevo para não me doer mais... beijo para me doer ainda menos...

Dói-me...
Esta ausência desnaturada a encher-me de medo, a verdade que abarcas a roer-me a pureza, a solidão rebentando-me com a sorte, esta falta, esta morte... este escrever, este beijo, parece doer menos, continua a doer...

Segredo...
Adorei tudo o que passei contigo, distâncias já me são conhecidas, ausências já rodeiam... Continuo a pensar em ti disfarçadamente! Sussurro... Solto a eternidade dos teus passos nesta memória antiga, neste sentir tão envolvente que te traz de volta aos meus braços, ter-te assim, rosto manchado de carícias vãs, pés atados a obrigações que se foram, mãos nas minhas, restos de mim em ti, restos que foram tanto... restos... tudo o que fui! ... tanto do que ainda sou...


Escrevo o que sinto...
Beijo!
Dói-me (ainda) este segredo.

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