terça-feira, agosto 15, 2006

Este é o presente que eu quero...


Oceanos de lágrimas. Assim estavas tu perante nós. Perante um pedido que me fazias humilhantemente. Pedias-me com o coração nas mãos a minha preciosa ajuda.
Pediste indirectamente minha própria morte. Nunca mais fui a mesma. Nunca ressuscitei. O meu jazigo é sempre sombrio desde aquela maldita madrugada.
Mas eu só te queria ver feliz. Mesmo que a tua felicidade causasse a minha ruína. Minhas lágrimas. Minhas insónias. Minhas agonias.
E ajudei-te. Como podia eu ignorar teu sofrimento? Não consigo fazê-lo do modo que ignoras o meu. E chorei. Chorei contigo o nosso sofrimento. O nosso terror. Manifesta-se de diferentes maneiras mas atormenta-nos de igual modo.
E o teu choro a me torturar. Nunca vou esquecer a forma como morreste nessa noite. Como morremos.
A diferença está em ti : ressuscitaste... Eu não.
E sempre que vejo a minha doença, aquilo que me definha lenta e tortuosamente, lembro-me que fui eu que a evoquei, a trouxe para mim. Causará a nossa separação. Nossa morte definitiva enquanto almas compatíveis.
Porque magoas-me infinitamente sempre que me abandonas, sempre que te esqueces de mim.
Porque só te recordas de mim quando não o tens.
E morro. Morro todos os dias ao ver os teus sentimentos.
As tuas formas de sentir.
Os teus olhares infinitos.
As tuas vontades,
desejos,
loucuras
matam-me.
Todos os dias.
Mas era o presente que tu querias.
E não me posso queixar.
Como pode se lamentar quem procurou evocar sua própria morte?

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