Por mais que me custe a admitir, eu nunca vou esquecê-lo. Mesmo que escreva um novo capítulo, ele será sempre o herói da minha história. Nem todas as escolhas serão sobre o que o meu coração quer, serão sobre o que o meu coração precisa. Eu continuei o meu percurso, mas uma parte de mim permaneceu para sempre nele. Neste novo relacionamento adquiri paz e estabilidade, no entanto, perdi o fogo que me incendiava o olhar. Ganhei segurança emocional, mas perdi a adrenalina de querer tanto estar perto de alguém. Ganhei alguém que me trata maravilhosamente bem, mas perdi aquele corpo que me lia de olhos fechados. E isto é algo que nunca irei contar a uma alma que seja. Este amor fica guardado no armário onde moram os silêncios, nas ramificações dos meus segredos, no lado esquerdo do peito onde evito mexer para não doer nunca mais como doeu naquele dia. Porque sim, ás vezes planeamos uma vida ao lado de alguém que nos faz bem, que é emocionalmente presente, estável, cuidadoso... mas não nos enlouquece. Não nos faz estremecer, perder o fôlego, suar por dentro. Não nos empurra para aquele estado bruto de prazer e de extâse onde perdíamos a vergonha e dançávamos loucamente com a intimidade. Desapegávamo-nos da noção de realidade. E é aí que mora o nó da minha garganta. Porque comparações são feias, mas o corpo tem memória. O meu cerne também. E por mais que eu ame alguém novo, há momentos em que ainda me vejo presa a ele, no meio do presente a relembrar o passado. Aquele toque. Aquela entrega. Aquela intensidade. Aquela forma de foder-me como se fosse a última vez. Eu sacudo a cabeça numa tentativa infrutífera de afastar as recordações e não pensar mais nele. Finjo que está tudo bem e esqueci aquela relação tão fugaz. Todavia, ás vezes na calada da noite quando sinto-me mais sozinha, o que perdi ainda grita dentro de mim. E quem tenho agora talvez seja a alma certa para colar ao meu amâgo, mas não me incendeia como ele. Vou continuar a fingir que alguma vez deixarei de sentir-me assim?