sexta-feira, outubro 11, 2024

Intimidade.

 

 


A nossa ligação vai muito além de envolvimento físico ou bocas entrelaçadas. É incrível como a banalidade desses momentos tornou-se algo usual nos dias de hoje. Perderes o teu corpo nu durante algumas horas, beijando um estranho e roçando o teu tronco num outro alguém, não é o mesmo que tornar-se íntimo. A intimidade, antes de tudo, não é física. Pode expressar-se de forma física, mas jamais começa aí. A intimidade mora na alma, na troca de olhares, nos sorrisos tímidos repletos de significados, no silêncio das conversas que dispensam palavras. Acontece no encontro do que há de mais profundo em mim com o que há de mais profundo em ti. Intimidade é o espaço onde posso existir como sou, ser eu mesma, com as minhas imperfeições, virtudes, perspectivas, pensamentos e vícios. Intimidade é onde posso existir na medida certa e saber que tu vais abrigar-me. É poder dizer-te o que para os outros será sempre silêncio. De todas as intimidades possíveis entre nós, nenhuma é mais profunda do que a sinceridade. Intimidade é poder ser verdadeira e dizer sempre a verdade. Não a verdade absoluta porque ela não existe, mas poder dizer as minhas verdades. As minhas peculiaridades. É ter a certeza de um porto de abrigo no teu abraço, distante de tantos outros âmagos que não me compreendem. Intimidade é sentir os pés bem assentes no chão, firmando raízes profundas, preparadas para enfrentar qualquer vendaval. É o lugar onde as mentiras não precisam ser inventadas e as verdades não precisam ser camufladas. A intimidade não surge do dia para a noite. É uma construção que demanda paciência, tempo e investimento. Por isso, cada vez há menos almas dispostas a cultivar intimidade. A velocidade e superficialidade de tudo colocaram os relacionamentos profundos em extinção. Tudo é liquido e efémero. A tragédia é que, sem intimidade, somos escravos de amores temporários procurando alguém que nos sacie uma sede que nunca se extingue. Relacionamentos sem intimidade são vazios, ocos, impessoais: os favoritos de índoles desprovidas de sentires intensos e reais.


domingo, setembro 22, 2024

Intensa(mente).

 

 

Sou emocionalmente intensa. Não sei ser de outra maneira. É dificil para mim lidar com desfechos inesperados e assuntos inacabados. É quase impensável ter que lidar com a a frustração de doar-me tanto, aceitar tão pouco, e quando tudo de mim é sugado, ser descartada como uma peça de roupa que não nos serve mais. Sou intensa e brado de peito cheio a minha intensidade. Dou de mim tudo o que tenho, e se não tiver, encontro formas de ser mais. Nunca me preocupei em ter pouco em mim se quem estivesse ao meu lado tivesse tudo. Doar-me por inteiro é a minha maior expressão de amor. Deixar de ser eu para ser de alguém é o meu acto de altruísmo em nome da paixão que me consome. Nem sempre o digo em palavras,  nem serei a mulher romântica que deveria ser, nem saberei demonstrar afecto das maneiras mais indicadas; mas se gostar verdadeiramente de ti, passarás o dia na minha mente, pensarei em mil e uma formas de fazer-te sentir querido e sentires como a tua presença é essencial para mim. Num mundo repleto de almas vazias e amâgos amedrontados pela vulnerabilidade e o medo de albergar sentimentos, pensamos muito e sentimos pouco. A paixão fugaz e intensa depressa é dispensada e ao sentir amor, as almas cobardes preferem desistir por medo e feridas do passado cicatrizadas ainda no presente. Também tenho as minhas feridas, mágoas, angústias e abandonos. No entanto, insisto sempre que o amor esbarra em mim. A racionalidade não habita em mim e eu e ele somos um só, fundidos nos beijos que nos devoram os corações sedentos de afecto. Assumir amor é permitir que a racionalidade nos carcoma a lógica, o pragmatismo e todos os receios. Ama-se sem medo ou fugimos apavorados. Sou intensa, admito sem rodeios. Quando o meu olhar repleto de significados cruzar-se novamente com o dele, verá marcadas as minhas cicatrizes na pele, na alma, no coração, no sangue. Mas o que irá sobressair quando agarrar-me novamente pela mão e conduzir o caminho será o " eu amo-te, falamos de tudo o resto depois." Seguirei de olhos fechados e fé cega porque amar é isso. Entrega e dedicação, racionalidade fora de questão.

quarta-feira, setembro 04, 2024

Não estava(s) nos meus planos.

 


 Não estava nos meus planos apaixonar-me por ti, repito na minha mente vezes e vezes infinitas. Sentimentos só acarretam desilusões e entregas desmesuradas que me consomem por completo. Gostar tanto assim de alguém não era para acontecer.  Estou apegada ao passado, a um amor que ainda me nutre e confunde, neste misto de emoções que transporto no lado esquerdo da alma. E, no meio disto tudo, surges tu. Alguém que surgiu para destabilizar os meus sentidos e inquietar o meu coração. Completamente. Tu és aquela esperança de que existe "felizes para sempre", aquela vontade de lutar para dar certo. És a certeza de que existe perfeição. Os defeitos existem e estão lá patentes, mas estou a contemplá-los com os olhos do coração. Tu representas o lar, casa, a sensação de cuidado. É como se quando estou contigo eu encontrasse a paz que falta no meu peito, a tranquilidade pela qual o meu amâgo anseia, algo que só raramente consigo encontrar. São sentimentos novos para alguém como eu, que, até hoje, viveu uma vida inteira sem receber intensidade em troca.