segunda-feira, dezembro 23, 2024

Esse alguém não és tu.

 

 Quando amo muito alguém, de forma incondicional e avassaladora, engano o meu coração.  Tento encaixar aquele outro ser humano de múltiplas formas que não correspondem ao seu formato. Clamo ao universo por um sim que começou destinado a ser um não. Eu quero, eu teimo, faço birra tal e qual uma criança mimada que deseja ardentemente um brinquedo. Um dia eu vou entender que o amor não funciona assim. O amor tem que ser sentido pelos dois. Não dá para amar pelos dois. Amor tem que ser fácil. Tem que ser bom. Amor que não é amor não se encaixa, não complementa, não serve. Preciso de alguém que não arranje desculpas para cada solução. Alguém que faça de um segundo uma hora. Alguém que não tenha meias palavras. Alguém que não coloque barreiras no que deveria ser simples e descomplicado. Alguém que saiba que me quer e agora. Alguém que queira bradar ao mundo o sentimento que nutre por mim. Alguém que sinta orgulho de estar ao meu lado. Que me apresente aos pais, ao irmão, aos amigos, ao chefe hierárquico, ao empregado de limpeza do escritório. Que segure a minha mão ao andar na rua. Que não tenha medo de olhar-me apaixonadamente na frente de outras almas. Alguém que me dê mais certezas que perguntas. Alguém que não permita que eu adormeça com dúvidas. Que apresente soluções antes mesmo das questões surgirem. Alguém que seja a solução dos meus problemas e não a causa. Alguém que só tenha interesse no futuro e que queira esse futuro comigo. Alguém que me faça rir e que saiba rir do meu sentido de humor. Do meu sentido de amar. Alguém que me mostre que a vida pode ser leve mesmo em momentos menos bons. Que seja o meu refúgio em dias caóticos. Alguém que quando me abraça o resto do mundo desaparece. Alguém que não tenha traumas nem assuntos mal resolvidos. Alguém que me transborde e faça-me sentir que vou explodir de tanto amor. Que me faça sentir a pessoa mais especial do universo. Alguém que dê sentido a todos os clichês da paixão. Alguém que me inclua nos planos de família, nas compras de Natal, nos jantares de final de ano. Alguém que planeie um casamento majestoso, uma casa no campo e um labrador no quintal. Alguém que apesar de saber que consegue viver sem mim, escolha viver comigo. Alguém que não se esconda nem esconda os seus sentimentos. Que brade aos quatro ventos o quanto me ama. Que cada palavra seja directa e clara. Que faça o que fala e fale o que faz. Alguém que me admire e impulsione-me para a frente. Que me apoie quando mais ninguém acreditar em mim. Que me ajude a transformar sonhos em realidade. Preciso de alguém que  não precise convencer que eu valho a pena. Alguém que nunca tenha dúvidas sobre mim. Alguém que olhe para mim e naquele instante saiba, sem hesitar, que sou eu e apenas eu.  Alguém que me faça olhar para trás e agradecer por nunca ter dado certo com ninguém antes. Alguém que faça não existir mais ninguém depois. 

Esse alguém não és tu...

sábado, novembro 09, 2024

Silêncio.

 

 


 Já não sei há quantas noites o sono abandonou-me. Quando vais regressar aos meus braços? A saudade devora-me a esperança de voltar a ouvir a tua voz ou ver o teu sorriso. Gostava que soubesses que eu não reflecti nas palavras que te disse na última vez: tu não és insensível. Perdoa-me se ás vezes disparo vocábulos como se fossem flechas. Eu compreendi desta vez, não voltará a acontecer. Volta para o meu abraço onde ambos sabemos que pertences. Esperei tanto tempo por alguém como tu, por favor não me digas adeus como se não te importasses perder-me. Foi um amor recíproco, um amor mútuo e eu quero continuar a poder sentir esse amor. Diz-me, porque queres despedir-te? Não me despedaces o coração dessa forma tão cruel. Eu e tu sabemos, soubemos desde o primeiro momento, desde o primeiro instante.  Desde que me abandonaste eu não descanso a alma nem o peito em momento algum. Eu falo com amâgos que serão temporários, esqueço-me de palavras, vagueio apática pelas ruas, vivo um autêntico pesadelo do qual não consigo acordar. Diz-me novamente, porque não podemos ser corações entrelaçados quando eu senti tanta paixão nos momentos que nos perdemos um no outro? Porque é que eu só consigo pensar em ti? Porque é que só reconheço felicidade nos outros e tristeza desesperante em mim? Porque é que escrevo estas palavras que tu nunca irás ler?  Volta para mim. Eu suplico, volta. Silêncio. Eu compreendi desta vez, tu não vais regressar a este peito que chora angustiado...


quinta-feira, outubro 31, 2024

Contra a minha vontade.

 


 Amo-te, queria gritar. As palavras morrem-me na garganta, estranguladas pela tua frieza. Esqueceste-te das emoções numa gaveta qualquer, arquivadas entre mil e um processos. Não sou mais que silêncios abafados pela racionalidade e descontração com que me deixas escapar por entre os dedos. Estou a fugir, entendes? Estou a escapar-me por entre as angústias que me consomem a alma e devoram o peito. O coração nervoso sem saber onde abrigar-se. O amor que nutro amedrontado pelas incertezas. A vontade de continuar aqui esmagada pelo tempo [ou pela ausência dele] que nos impede de sermos um nós. O meu maior desejo era conseguir despertar em ti a paixão avassaladora que dizes nunca ter sido capaz de sensoriar. Falhei. Não tens um peito capaz de abrigar amor por mim. Não me aprofundei com intensidade suficiente para alcançar esse teu coração rodeado de gelo. Não fui mulher suficiente para acordar a necessidade de um sentir devorador e de uma intensidade que te tragasse o âmago sempre que estivesses longe de mim. Sinto-me despojada de verdade, aniquilada pelo homem severo e ríspido que sempre foste e que eu julguei albergar um menino carecido de amor. Estava enganada, meu amor. O teu coração é negro e todos as minhas diligências foram em vão. Rendo-me, aqui e agora, ainda que contra a minha vontade.