quinta-feira, julho 10, 2025

O herói da minha história.

 

 

Por mais que me custe a admitir, eu nunca vou esquecê-lo. Mesmo que escreva um novo capítulo, ele será sempre o herói da minha história. Nem todas as escolhas serão sobre o que o meu coração quer, serão sobre o que o meu coração precisa. Eu continuei o meu percurso, mas uma parte de mim permaneceu para sempre nele. Neste novo relacionamento adquiri paz e estabilidade, no entanto, perdi o fogo que me incendiava o olhar. Ganhei segurança emocional, mas perdi a adrenalina de querer tanto estar perto de alguém. Ganhei alguém que me trata maravilhosamente bem, mas perdi aquele corpo que me lia de olhos fechados. E isto é algo que nunca irei contar a uma alma que seja. Este amor fica guardado no armário onde moram os silêncios, nas ramificações dos meus segredos, no lado esquerdo do peito onde evito mexer para não doer nunca mais como doeu naquele dia. Porque sim, ás vezes planeamos uma vida ao lado de alguém que nos faz bem, que é emocionalmente presente, estável, cuidadoso... mas não nos enlouquece. Não nos faz estremecer, perder o fôlego, suar por dentro. Não nos empurra para aquele estado bruto de prazer e de extâse onde perdíamos a vergonha e dançávamos loucamente com a intimidade. Desapegávamo-nos da noção de realidade. E é aí que mora o nó da minha garganta. Porque comparações são feias, mas o corpo tem memória. O meu cerne também. E por mais que eu ame alguém novo, há momentos em que ainda me vejo presa a ele, no meio do presente a relembrar o passado. Aquele toque. Aquela entrega. Aquela intensidade. Aquela forma de foder-me como se fosse a última vez. Eu sacudo a cabeça  numa tentativa infrutífera de afastar as recordações e não pensar mais nele. Finjo que está tudo bem e esqueci aquela relação tão fugaz. Todavia, ás vezes na calada da noite quando sinto-me mais sozinha, o que perdi ainda grita dentro de mim. E quem tenho agora talvez seja a alma certa para colar ao meu amâgo, mas não me incendeia como ele. Vou continuar a fingir que alguma vez deixarei de sentir-me assim?

sábado, julho 05, 2025

Coração adentro.

 


 

Ainda no outro dia, questionaram-me sobre o que fazes na minha vida. Não poderia responder de outra forma que não esta: torná-la mais feliz. Construir é o verbo que quero conjugar contigo. Acrescentar. Somar. Sermos mais. Ser melhor por ti. Foi desafiante para mim aceitar um meio termo, não nego, mas finalmente encontrei alguém cuja linguagem encaixa na minha. Eu, que sou de resguardar sentires no canto mais profundo do meu ser, aprendi a proferi-los num desenrolar de palavras que tende a ser mais e mais melodioso. Tu, que sempre foste de guardar mensagens nos silêncios, descobriste que existe um amor puro e verdadeiro, completamente diferente daquele a que te habituaste. Saíste das ausências de afecto e encontraste os vocábulos certos. As conversas fluem naturalmente e concentro-me apenas no querer viver, sem medo de ser demasiado emotiva ou de ter que esconder o que penso e sinto. Tentei muitas vezes soltar, procurar razões para ir embora, não por não desejar-te com cada fibra do meu ser, mas por medo de ser isto. Pavor de seres o homem da minha vida e não saber lidar com isso. Nenhum dos dois sabe explicar como construímos tanto em tão pouco tempo e como a nossa ligação sobrepõe-se a relacionamentos de décadas, mas a verdade é que aqui estamos. Cada um de nós move o seu próprio mundo para facilitar a entrada do outro. Eu e tu procuramos constantemente maneiras de fazer o outro estar. E queremos estar. Queremos sentir. Almejamos ser. Em conjunto. Aprendi contigo a simplificar e, essencialmente, a escutar as tuas e as minhas necessidades. Aprendi a deixar-me sentir sem receios, sem muralhas, sem sentir a vontade incontrolável de erguer muros em redor do coração para que não sofresse. E é tão bonito ver como tudo se encaixa. Sempre que a minha mão entrelaça-se na tua, os nossos corações sorriem em uníssono, gratos pelo amor avassalador e simultaneamente tranquilo que os une. E passe o tempo que passe sem estarmos juntos, de cada vez que voltamos a estar nos braços um do outro, o nosso sentimento está intacto, abalado apenas pela saudade. E a minha alma é completamente tua, sem rodeios e sem pudores. Ofereceste-me o bem mais valioso que ninguém foi capaz de fazer por mim: o teu tempo. Porque mais importante do que o que dizemos da boca para fora, é o que fazemos coração adentro. 

quinta-feira, junho 12, 2025

Carta aberta a ela.

 

 

 

Sei perfeitamente que não conheces a minha essência e não entendes a origem destes vocábulos, mas a tua presença fantasmagórica em cada passo meu exige que a ti me dirija. Peço-te, da forma mais humilde exequível, que permitas afrouxar os laços que ainda te ligam tão intensamente a ele. Tanto ele como eu precisamos desse gesto simbólico para que a nossa entrega mútua não ecoe o teu nome nas sombras de um passado que teima em não querer ser apagado. E acredita, uma grande parte de mim, percebe-te perfeitamente. Quem quereria deixar ir um amâgo assim tão perfeito? Quem poderia querer cortar todas as amarras que ainda a prendem a um coração generoso, altruísta, repleto do mais puro amor, capaz de todos os gestos incondicionais que qualquer mulher deseja, e ainda mais, sem pedir nada em troca? Eu também não iria desejar não voltar a vislumbrar alguém que voa para os meus braços sempre que eu chamasse. Posso contar-te um segredo? É para o meu abraço que ele corre agora. É no meu peito que ele se aconchega. É no meu coração que os seus medos se acalmam. Nos meus beijos que ele descansa a mente perturbada. E, ao contrário de ti, eu sempre irei valorizar um amor assim. Gratidão pelo caminho dele ter cruzado o meu. Não sejas márt[ir]a, é demasiado tarde para isso. As minhas palavras são a despedida que ele procura ainda dentro de si porque estão embrulhadas ainda na coragem que cresce aos poucos. Quero ainda, por fim, agradecer-te do fundo do meu coração por não teres valorizado o parceiro maravilhoso que tiveste a teu lado durante vinte e três anos e que não soubeste apreciar e amar com todo o coração, corpo e alma. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para que o meu amor faça-o esquecer o teu nome, o teu rosto, a tua voz e a tua ingratidão, mas sobretudo farei o possível e impossível para transformar os meus momentos ao lado dele em eternidade.