sábado, agosto 02, 2014

A maneira como partiste.


Caro H.
Quando te conheci, toda eu era composta por inseguranças, confusões e medos infindáveis de solidão. Em retrospectiva, sei que ainda estava mais perdida do que realmente me sentia na altura. Quando te conheci, algo apoderou-se de imediato da minha alma assim que te vi- algo entrelaçou-se no meu coração, uma sensação de felicidade. A partir desse dia, deste-me sempre algo por que ansiar, dia após dia. Ajudaste-me a ultrapassar os dias difíceis, motivaste-me mesmo na tua ausência só por estar ciente da tua existência, e aos poucos reconstruíste o meu despedaçado interior, contigo aprendi, certamente, a ser uma uma melhor pessoa. Adorava profundamente deixar-me repousar nos teus braços, observar-te a dormir, e lembro-me de abraçar-te apertado e desejar que o tempo parasse naquele instante. Recordo-me de esperar nunca perder o que tínhamos e por uma vez, ser capaz de não estragar tudo. Meses e anos passaram-se e tu tornaste-te uma parte de mim, o meu porto de abrigo. Tinha encontrado alguém de quem depender sem me perder por completo. Eu estava feliz. No entanto, uma parte de mim sempre soube, no meio de todos os abraços, beijos e piadas que só nós dois compreendíamos; e sentia-te escapulir demasiadas vezes e apenas o pensamento de que tal pudesse acontecer, fazia todo o meu âmago estremecer. O primeiro intervalo em que cessámos as palavras, confirmou todas as minhas dúvidas e receios, começaste a afastar-te e eu tentei por todos os meios impedir-te. Nunca foste o tipo de rapaz que permitisse que lhe moldassem a mente e partiste de qualquer maneira. Deixaste-me apenas com o silêncio, enquanto perguntas sem resposta giram e dançam dentro da minha cabeça. Disseste-me um dia sermos demasiado diferentes e o nosso amor não ser o suficiente para que resultasse. Tudo o que queria de ti era um pouco mais, talvez que falássemos uma vez por semana, talvez apenas que falássemos ocasionalmente. Empurraste-me para fora do teu mundo como se eu não significasse nada para ti. Seria, decerto, uma namorada muito melhor, mais carinhosa, racional e que te desse o valor que merecias, mas já te pedi desculpa tantas vezes por actos que nem sei se cometi e tu simplesmente partiste para que não tivesses que ouvir mais nada do que eu tinha ainda para dizer. Porque me abandonaste? Porque deixaste propositadamente de sentir o que sentias por mim? Perguntei-te o que me atormentava com lágrimas escorrendo pela minha face, as mesmas lágrimas que não quiseste secar um certo dia e que agora não significam nada. Perder-te doeu imenso, mas a maneira como me deixaste, despedaçou-me. Porque não me pudeste explicar o que passava pela tua mente? Porque foste tão insensível? Não te vou culpar pelo sucedido, vou depositar toda a culpa em mim própria e no meu coração que deixou-se guiar pelas tuas artimanhas. Nunca poderei ser capaz de explicar a ti ou a ninguém a dimensão da dor que o teu silêncio me causa. O sentimento cru, vazio dentro de mim que me consumiu e ainda consome uma parte de mim, independentemente de quantos dias decorrerem. Gostava mesmo que soubesses, não para te fazer sentir culpado, mas talvez para que tivesses consciência novamente de quanto me fizeste sentir. Tu, que nunca foste rapaz de demonstrar sentimentos. Sou-te grata por me manteres sã quando eu mais precisei e gostava que tivesses dado uma chance á nossa relação. Tu foste o meu primeiro grande amor e uma enorme parte de mim foi-se contigo, pelo que julgo, para sempre.
Sinto a tua falta diariamente.

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