segunda-feira, julho 09, 2012

sem rumo.


Vagueou durante horas sem rumo. Doiam-lhe os muscúlos das pernas devido aos quilómetros percorridos sem saber bem porquê; mas a angústia que lhe perfurava repetidamente o coração, fazia-a avançar sem temor. Olhou em seu redor e demorou-se vários segundos na paisagem irreconhecível ... Não sabia exactamente onde estava mas essa era a menor das suas preocupações. Tentava, ainda que soubesse tratar-se de uma teoria inútil, reconstruir todos os passos que tinha dado com ele, esperando poder compreender o que tinha acontecido. O seu mundo desabava lentamente embora de forma ruidosa, arrastando consigo o seu coração partido e usado, enterrando-o na poeira e caos em que ela se encontrava. As acções dele tinham uma explicação lógica e coerente. " Ele vai voltar e chamar-te de chata e tonta por acreditares que ele te tinha abandonado quando prometeu que não o iria fazer nunca". - Dizia ela a si própria por entre os soluços ocasionais, fruto do choro compulsivo que lhe esmagava a alma e fazia arder os seus olhos que nunca derramaram tantas lágrimas até o conhecer. O silêncio imperava e era tudo o que lhe restava. Voltando aos seus sentidos, apercebeu-se que se tinha deixado levar pelo coração até aos arredores da casa dele. Conseguia discernir o caminho desigual por onde tinham descido apressadamente naquela tarde e o pôr-do-sol que repousava sobre a baía da cidade. Perguntou-se vezes sem conta se ele conseguiria sentir a sua presença disfarçada, a poucos metros do lugar onde ele provavelmente repousaria áquela hora, numa tarde de domingo. Ponderou ainda se deveria deslocar-se até á porta de sua casa e, com o coração destroçado, encolhido nas suas mãos, perguntar o que tinha feito de errado. Por que motivo tinha sido ela a sofrer ? Por que razão dizia não querer que ela brincasse contigo e acabaste por lhe fazer isso? Teve medo, muito medo. Saiu apressadamente da rua onde ele morava e escondeu-se numa travessa deserta. Quanto mais perto dele estava, mais sozinha e abandonada sentia-se. Decidiu, contrariando o seu coração ainda cheio de sentimentos, resignar-se e percorrer outros tantos quilómetros para fugir dele e de tudo o que ele representava. Confiou erradamente em atitudes falsas e palavras que troçavam dos seus sentidos fragilizados  e pagava agora o preço da sua entrega... Só não sabia que era um castigo tão severo que lhe estava reservado.

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