quarta-feira, outubro 19, 2011

desperdicio de tinta.


Eu não consigo deixar de desperdiçar tinta por tua causa. O teu nome perdura, suspenso na ponta da caneta enquanto arrasto-te pelo papel, uma e outra vez. Deixas uma mancha disforme em tudo o que tocas e a chávena de café marca a mesa no meu quarto. E mesmo agora que saiste da minha vida, as manchas continuam. Marcas redondas que me relembram o que correu mal. Tinhas o hábito de te apoderares do meu espaço, das minhas memórias, tomando todo o espaço livre como teu. Mesmo depois de todo este tempo, preenches o meu quarto com notas amontoadas, elegias e poesias. Quem conhece, diz que é inspiração, eu digo que é invasão. Cada centimetro teu enche os meus cadernos, desgastando as suas páginas. Nada mudou e eu estou cansada de escrever sobre ti, como me puxavas cada vez mais para ti, apesar de eu não poder estar mais próxima do que já estava. A maneira como suspiravas. Tu deixaste a minha vida, e tudo o que me restou foi esta forma de escrita infindável,tal como odes aos teus ouvidos, que,no entanto, não te impediram de partires. As margens destas páginas estão cheias. Não há mais espaço para respirar, a caneta tornou-se demasiado pesada e peço-te assim, educadamente, que retires o peso da tua mão que teima em pender sobre a minha. Um mundo inteiro separa-nos e, mesmo assim, continuas a sangrar sobre o meu texto. A tinta que escorre deste papel imundo mancha as pontas dos meus dedos de azul. A cor do sofrimento.

2 comentários:

Dário Rodrigues disse...

"... estou cansada de escrever sobre ti, como me puxavas cada vez mais para ti, apesar de eu não poder estar mais próxima do que já estava."

"Um mundo inteiro separa-nos e, mesmo assim, continuas a sangrar sobre o meu texto."

É-me impossível deixar de gostar do que escreves.

Uma curiosidade: Porque o azul é a cor do sofrimento?

Vanessa Kiekeben disse...

vejo o azul relacionado com a expressão inglesa "feeling blue". Devia ter explorado melhor essa ideia, acho eu.