segunda-feira, abril 28, 2014

A tua existência.



Sentei-me calmamente enquanto ouvia o meu coração disparar. O rebelde sem causa agitava-se dentro do meu peito sem cessar os seus gritos, bradando um pedido de uma paz relativa que sobre ele descansasse. Ouvi durante horas o seu bater desenfreado contra as paredes do meu ser, sentindo-me impotente perante os seus inexplicáveis lamentos. Tentei escutar com atenção, presa na esperança de o compreender remotamente, de conseguir agarrar-me ao seu pedido de ajuda que me desgastava de forma lenta e progressiva. Mantive-me serena á medida que o meu coração fazia exactamente o oposto numa dança maldita que me corroía cada vez mais. Não conseguia, de maneira nenhuma, acalmar este orgão repleto de raiva e insegurança que queria, a todo o custo, saltar-me do peito, rasgar-me a pele, explodir-me o tronco. A minha calma de espírito desaparecia aos poucos e poucos, destruída pela agitação que se formara dentro de mim. Já não sabia como agir, o que fazer para impedir o meu interior de se autodestruir. Perguntas seriam, decerto, tentativas infrutíferas perante a violência que me nutria; a atitude calma que outrora me possuíra já há muito que se desvanecera. Andei sem rumo durante horas (ou seriam dias?), vagueando em busca de uma solução que me acalmasse o espírito revolto, a angústia que circulava por todo o meu ser. Encontrei-te, por acaso, num caminho errante sem saber como, e o teu sorriso parou-se no meu olhar. O meu peito soltou um suspiro, o meu coração abrandou e o sangue cessou de ferver numa tempestade de sentidos. Houvera, afinal, um remédio tão simples para a combustão que me aniquilava progressivamente: a tua existência.

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