terça-feira, novembro 20, 2012

angústia negra.



Ela tentou, durante horas a fio, descobrir alguma peculiaridade naquela alma fútil que ele, sem razão alguma, venerava. Percorreu com os dedos repletos de mágoa, infindáveis e descabidas fotos, tentando encontrar os resquícios de beleza que ele nela admirava. Encontrou, frequentemente, rasgos de vulgaridade latentes nas reduzidas peças de vestuário, na maquilhagem exacerbada e nos olhares ostentativos de uma falta de auto-preservação vísivel. Percorreu mais uma vez as palavras que lera naquela noite que lhe partira o coração. A sua alma calejada nunca fora de desistir facilmente e, sentia na profundidade do seu fragmentado íntimo, ser exequível encontrar um motivo que explicasse o que existia naquela sua ausência de venustidade que minguava na sua própria essência. Analisou cada poro de fealdade, recordou quase como se voltasse a ouvir, aqueles acordes melosos de uma voz que violenta os tímpanos de forma rude e quase agreste, deparou-se vezes sem conta com a exiguidade de um bom senso em todos os aspectos do vocábulo. No entanto, por mais que esquadrinhasse e desconstruísse aquela figura pouco carismática que o objecto dos seus afectos parecia preferir á sua privativa fragilizada e hesitante alma, todas as explicações pareciam-lhe quedar-se muito áquem de todas as teorias lógicas e plausíveis, afastando equações e justificações que acalentassem um coração repleto de perguntas sem resposta, escondido atrás de demasiadas mentiras e obsoletas verdades que de nada lhe serviriam. O seu pobre coração continuava partido e receoso de confiar novamente em palavras desprovidas de sentido e preferências irreais e absurdas, considerando a apatia de personalidade constante naquele estranho cerne. Por fim, vencida pelo cansaço físico mas sobretudo emocional, rendeu-se á angústia negra e profunda que lhe carcomia o interior na última semana ... Não encontrava um sentido para dar a esta forma de vida e, embalada pela fatiga de mais um dia de desconfianças, receios e dúvidas pouco absurdas, sussurrou ao coração que necessitava de tempo; sabendo perfeitamente que no dia seguinte recomeçaria tudo novamente.

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