quarta-feira, outubro 09, 2013

Universos.





Neste meu mundo consciente, repito incessantemente não querer uma família, mas num plano paralelo, sou o tipo de ser que sonha assentar e construir um lar. Talvez exista um universo em que tu segures firmemente a minha mão enquanto eu dou á luz a nossa filha num quarto branco de hospital, repleto de flores cor de rosa e ursinhos de peluche adoráveis repousando na beirada da janela. Onde nos aninhamos para ver filmes românticos ao fim de um longo dia, na nossa enorme e aconchegante casa suburbana, logo após as crianças terem adormecido.
Talvez exista um universo onde sejamos um casal de meia idade, acompanhando os nosso filhos até á escola. Um mundo em que beijas a tua descendência na testa enquanto te despedes e conduzimos em direcção a casa, envolvidos num silêncio contido e orgulhoso, enquanto sinto os teus dedos acariciando os nós dos meus dedos, enquanto oiço as nossas alianças de casamento a tilintar. Uma dimensão onde ambos possuímos cabelo grisalho e rimos e sorrimos em longos abraços, bebendo café em fins de tarde passados no nosso alpendre.
Talvez exista um universo onde esta seja a vida que desejo; onde não tenha que atribuir um segundo sentido a todas as coisas, onde não tente desesperadamente estragar os laços que nos unem porque não tenho medo de um compromisso, nem de um futuro, nem do amor. Talvez haja um outro plano sem todo este ruído que povoa a minha mente; sem o orgulho que me torna tão ironicamente independente; sem o gelo que vive no meu coração e que eu deixo emergir sempre que me sinto insegura e necessito de uma rede de segurança.
Talvez haja uma dimensão semelhante em que eu seja a pessoa certa para ti. Um lugar onde eu adoro todos os gestos simples que fizeste por mim sem que o ressentimento tome conta de mim. Um universo onde realmente termines ao lado de alguém que te dê o devido valor. Um universo onde somos felizes - sem nos questionarmos se essa felicidade é uma forma distorcida de um jogo preparado para terminar ao mínimo obstáculo. Um univero onde nos sentimos confortáveis e seguros de nós próprios.
Talvez exista um universo onde adormecemos lado a lado todas as noites como colheres, como dois coelhinhos inocentes - o meu resto enterrado no teu pescoço, abraçando o teu calor - e nenhum de nós quer ou deseja outra coisa qualquer. Nenhum de nós quer mais, apenas um ao outro.
 Talvez exista um universo em que eu não me esconda tanto nos meus pensamentos e onde esteja feliz sem ponderar desaparecer sem dizer nada a ninguém. Sem questionar-me a cada noite, antes de adormecer, se não seria melhor sermos almas divergentes.
Nenhum de nós agiu de forma errada. Conhecemo-nos no universo errado, apenas isso. Nós em qualquer outro espaço ou tempo- Império Romano, Guerra Civil, nos loucos anos 20 - somos felizes. Se esta teoria é fiável e provável, teria que existir um universo - exactamente este - em que não estaríamos destinados a terminar juntos.  Contra todas as hipóteses, este era o tal. Se pensarmos nos factos deste ponto de vista, nada foi culpa nossa. Não ficámos juntos por causa dos multiversos. Não é reconfortante?
Se estiveres triste, faz como eu e pensa nos outros universos. Aqueles em que eu acredito em amor e não termino a nossa história com raiva de mim mesma porque  senti uma necessidade incontrolável de exterminar as nossas relações. Um universo onde tudo corre bem entre nós.


Porque sei-o, tu poderias ter-me amado para sempre... E talvez num outro universo, eu tivesse deixado.

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