Um coração vazio de ti.

Extingui o brilho quase intolerável das estrelas cintilantes que pairavam incessantemente sobre mim. Pintei de tons escuros, talvez negros até, a noite, para que a saudade não me encontrasse neste solitário crepúsculo que se abate aqui, neste sombrio lugar. O coração apertado, envolvido pela escuridão que eu habilmente criei, julgou erradamente estar protegido das investidas abruptas causadas pela tua descuidada ausência. " Ainda ontem estiveste nos seus braços e perdeste-te vezes sem conta no seu aroma inebriante" - sussurra-me a minha mente, tentando, em vão, incutir-me alguma razão no interior fragmentado.  No entanto, desistiu quando contra a sua vontade, relembrei o toque dos teus lábios, percorrendo-me as vontades proibidas despertadas por esse abençoado roçar; despertei, insensatamente, sensações que pretendia deixar repousar até seres alma crescente na minha presença e fiz emergir o amor que nutro desenfreadamente por ti! A saudade surgiu de rompante, desvastando tudo em seu redor e ressuscitando a noite que, em vão, tentei aniquilar. A escuridão presente no céu dispersou-se e, certamente, sem a minha permissão, penetrou no meu amâgo, causando um descarrilar insano de emoções. O peito estremeceu ao aperceber-se da distância que o separava de ti, os olhos fecharam-se, recusando admirar paisagem alguma em que estivesses ausente, as mãos enregelaram, lembrando-se do toque quente das tuas; o ventre contorceu-se em angústia quando se apercebeu que o teu  estonteante calor estava longe deste tronco. E assim, a saudade, repleta de um exuberante orgulho, vangloriou-se da minha falta de animo, explicando em palavras que me soaram estranhas, que um sentimento como o amor é suficiente para que uma noite aparentemente perfeita se transforme em quase nada devido a um coração vazio de ti.