terça-feira, dezembro 11, 2012

Recordação de amor.




Desfiz-me das últimas recordações tuas esta manhã. Todas os bilhetes, as mensagens escritas, os discursos eloquentemente elaborados guardados cuidadosamente nos recantos da minha mente, todos os resquícios de ti jogados ao vento. A nossa derradeira conversa em que tanto ficou por dizer, esvaiu-se finalmente da minha memória. Não remexi em nada que me recordasse da tua existência desde o dia em que me disseste que já não me amavas. Eram, sobretudo, fantasmas; pequenas coisas que devido á sua intensidade, assombravam cada pensamento meu, ainda que estivessem guardadas longe do meu hesitante coração. Estas remanescências da tua passagem pela minha alma e corpo eram algo que eu tentava, a todo o custo, evitar a menos que eu pretendesse recordar de forma dolorosa tudo o que costumávamos ser num passado que me parece, agora, demasiado distante e quase irreal.
Nunca acreditei que voltasses e redimisses-te pelas tuas omissões, tentando desesperadamente consertar os danos causados á minha essência. De forma alguma guardei fragmentos teus acreditando num improvável regresso. Sempre soube que as coisas nunca foram assim tão lineares. Nunca pertencemos realmente um ao outro e eu sabia perfeitamente que não estávamos destinados a permanecer naqueles abraços que eu sempre julguei intermináveis. E, o momento em que decidiste partir sem teres entrado totalmente na minha vida, ficou marcado eternamente na minha memória, no meu cerne e, sobretudo, no meu tolo coração. Não consigo apagar essa sensação por mais que tente... Esses sentires fazem e farão, em todos os momentos, parte de quem sou e definem, sem dúvida, um pouco de mim. Ainda me recordo de como me senti, a dor dilacerante de todas as sensações a rasgarem-me simultaneamente a psique e o tronco . Foi semelhante a cair de um lance incontável de escadas e aterrar de forma dolorosa sobre o estomâgo, sensoriando a falta de ar que se apoderava incontrolavelmente do meu ser. Passaram imensos e dolorosos anos desde aquele dia. A coragem acumulou-se-me gradualmente nestes anos que se arrastaram, relembrando-me sempre a ingratidão que me entregaste em mãos. Demorou, principalmente, porque sempre tive medo. Tinha medo que ao desligar-me das memórias de ti, esquecesse-me de como me fazias sentir quando eu acreditava em nós. Receei fortemente que fosse incapaz de voltar a sentir-me plena daquela maneira e jamais voltasse a conter em mim um amor tão intenso e visceral, quase. Deixaste de amar-me e sei que uma parte de mim sentirá sempre ressentimento quando se cruzar contigo numa rua qualquer, esquecida num canto da nossa história. No entanto, naquela altura em que os bilhetes foram escritos, as mensagens elaboradas, as palavras pronunciadas e/ou sentidas, tu amavas-me. Talvez não estivesse a evitar despojar-me da tua recordação, mas sim da memória de sentir-me completamente amada por alguém.
Passou-se um ano desde a nossa despedida, o dia em que devolveste-me o coração em mil pedaços, clamando não ser um molde perfeito para o teu. Estou recuperando lentamente e os sorrisos voltaram ao meu rosto fatigado e ausente de esperança. Consegui resgatar quase todos os fragmentos e recolocá-los no peito... Falta apenas um pedaço e acredito que faltará sempre. A cicatriz que me recordará eternamente do meu primeiro amor a quem me entreguei por completo. Mas já não me caracterizo como agridoce nem estremeço ao som do teu nome. Sou um espírito livre; livre a ponto de encontrar um novo ser que esteja disposto a sentir um amor avassalador por mim como tu um dia sentiste. Livre para amar um ser da mesma maneira que te amei.... talvez mais, até.

2 comentários:

Anónimo disse...

Escreves magnificamente, e identifico-me bastante com o teu texto

disse...

adoro a tua escrita, princesa