quarta-feira, agosto 01, 2012

as batidas do silêncio.




Sinto as batidas do silêncio que as ondas do mar rebelde arrastam na direcção do vento. Faces desconhecidas e disformes passeiam-se pela minha mente tentando, inconscientemente, impedir-me de concentrar-me na persona que se destaca por entre a multidão. Absorto num mundo imaginário e isolado, opondo-se a todas as almas insignificantes que deambulam pelo mesmo espaço, distingo a tua peculiariedade. Os teus pensamentos, distantes dos meus e causadores dos meus infinitos momentos de agonia e saudade, divagam por outros horizontes que não consigo alcançar. Estou infinitamente perto de ti, tão próxima quanto me é consentido, mas a distância que nos separa é tremenda. Pondero sentar-me num espaço exiguo, mas tu encontras-te num universo paralelo ao qual me foi vedado o acesso. Tens o coração trancado e os meus lamentos perdem-se por entre as ondas do oceano selvagem que, presenciando a minha imensa tristeza, rebentam contra as rochas de forma frenética e enlouquecida. Os momentos que vivemos, enredando as almas semelhantes numa teia perfeita mas intensamente frágil, construída gradualmente apesar de todas as desconfianças, escorrem-me pelas pontas dos dedos, tentando escapulir-se do meu interior negro e obscuro desde a tua partida.  Vendo a tua figura inconfundível ao longe, que tenta desesperadamente miscigenar-se na paisagem e cair no esquecimento, um sentimento de impotência assoma-me o tronco, a alma e o coração. Luto contra a vontade que urge, que grita desalmadamente no peito e que vocifera palavras como quem as cospe. Tenho de  manter-me á distância e de modo algum, posso tolerar que notes a minha presença. Estou em constante sofrimento, arrancando vezes sem conta a saudade trocista do peito e isolada nas recordações que guardo do teu corpo capaz de estremecer o meu, do teu sabor, do teu cheiro almiscarado a tabaco e dos vocábulos que roçavam os ouvidos de forma terna e agradável. Sou forçada a manter este afastamento e a constatar a tua amargura quando tudo o que mais queria era envolver-te nos meus braços e sussurrar ao meu mundo -tu- que está tudo bem. Quedo-me em silêncio e refuto todas as vontades que me atravessam o espirito. Não posso impor o meu semblante, ainda que o amor que me move suplique para que o faça. Limito-me a observar-te ao longe, concentrar-me nos pensamentos que guardo num cantinho especial do peito e esperar que o mar, de alguma forma, consiga transmitir-te apoio moral e paz de espírito e que te ajude da maneira que eu queria ser capaz de acudir-te...

1 comentário:

Andreia disse...

Está lindo. Força!