sexta-feira, abril 06, 2012

escada fria e suja.


Sentei-me na escada fria e suja, tentando perceber o significado da palavra saudade. Soletra-se do mesmo modo sorrateiro que utilizamos quando juntamos os lábios para dizer  adeus a quem não quereremos deixar partir e escreve-se com as mesmas letras com que se embala um coração partido. Abri o livro empoeirado onde ainda guardo as tuas fotos rasgadas apenas na minha mente e que não sabes serem ainda a razão de quase todos os meus suspiros. Sou alma incapaz de seguir em frente por mais do que meros e escassos segundos e os ponteiros de cada relógio parecem regredir sempre que me deparo com um novo sinal da tua existência. Dizem que o tempo cura os desgostos causados por esse sentir dilacerante que tantos seres bradam com um sorriso no rosto ser causador de uma felicidade extrema - o amor. Mentira! Causa apenas dor, sofrimento e enganos sem fim. Será, por ventura, possível, teres sido tu a deturpar o verdadeiro sentido do verbo amar com todas as lamúrias, decepções e mágoas que palimpsestaste no meu cerne?
A casa parece cada vez mais desprovida de vida e eu ainda não percebi o significado de tudo isto. A psique enreda-se no tronco e as palavras que já eram raras nesta garganta que ainda doí e estreita-se sempre que relembro tudo o que não disse, fazem-me sentir intermináveis arrepios de frio, medo e prazer que ainda relembro. Forço o corpo a levantar-se da escada fria e suja onde nos encontrámos sempre que queríamos fugir de nós próprios, pensando ser assim capaz de conter as lágrimas que embaciavam o brilho nos meus olhos verdes ainda de esperança. O tempo demonstrou-me e continuará a demonstrar sempre que as mudanças que eu sempre desejei que acontecessem, nunca chegarão. As gotas de orvalho cansado acabam por ceder e atingir o livro que trago ainda aberto, ligeiramente encostado ao meu solitário regaço. As fotos são a prova viva de que não te conheco como pensava... a tua ausência, a  prova de um crime que rasgou o meu peito e deixou-me presa a uma vida desprovida de sentido, sem compreender as razões da tua desistência. Os sentimentos gastos impedem-me de continuar a deslizar os dedos sobre a tua imagem e volto a resguardar-me para não me aperceber da tua presença, do teu aroma, do tom da tua voz ... o problema consiste em todos estes traços de ti estarem profundamente enraizados na minha pele e ser apenas uma questão de dias até relembrar toda a nossa história.  Ou talvez, quem sabe, até voltar a sentar-me na escada gelada e imunda onde aprendemos a conhecermo-nos num processo contínuo que sinto no meu sangue, ainda não ter terminado.

3 comentários:

Rute Neves disse...

minha querida +.+ . como tens andado?

CM disse...

adorei o teu blog :o sigo :)

Lara disse...

Já te sigo.
Os teus textos são perfeitos!!